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Leão, Elefante, Tigre, Urso Polar e Gorila

O termo Big Five nasceu para definir o grupo dos cinco mamíferos selvagens de grande porte mais difíceis de caçar pelo homem, expressão ainda usada em safaris de observação na savana africana. Neste grupo incluía-se o leão, o elefante africano, o búfalo africano, o leopardo e o rinoceronte. Agora, com a perspectiva inversa, elegeram-se novos Big Five, embaixadores para a protecção da vida selvagem em todo o planeta. São eles o leão, o elefante, o tigre, o urso polar e o gorila. Juntos farão do termo BIG 5 um novo paradigma dos tempos modernos

O projecto New Big 5 consiste numa iniciativa internacional que visa a criação de um novo paradigma dos Big 5 da vida selvagem. Mais de 250 fotógrafos e instituições relacionadas com a vida selvagem reuniram–se neste projecto criado pelo fotógrafo britânico Graeme Green visando a consciencialização global da crise que cerca de um milhão de espécies selvagens enfrentam em virtude da caça ilegal, da perda de habitats, de conflitos armados, do tráfico ilegal e das mudanças climáticas.

Lançado em Abril de 2020, o New Big 5 Project desafiou pessoas de todo o planeta a eleger os 5 animais que mais desejavam incluir como Novos Big 5. O resultado foi anunciado a 17 de Abril deste ano, passando os elefantes, os gorilas, os ursos polares, os tigres e os leões a representar muito do que perderemos se ignorarmos os perigos que temos vindo a impor à vida natural. Cada uma destas espécies encontra-se seriamente ameaçada de extinção, estando todas presentes nas preocupantes listas apontadas pela UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza). A iniciativa foi acompanhada e noticiada em todo o mundo, em países como o Reino Unido, os EUA, Canadá, França, Austrália, Índia e Quénia e em canais como a BBC, CNN, Sky News, BBC Wildlife, na Revista Forbes, na GEO e em muitos outros órgãos de comunicação. A Travel & Safaris falou com Graeme Geeen, o seu fundador, para saber mais.

Como surgiu a ideia de arrancar com este projecto?

Sou fotógrafo de vida selvagem, jornalista e escritor de viagens há cerca de 15 anos e tenho andando pelo mundo com as minhas câmaras e um bloco de notas, tendo passado por países como o Botswana, a Antártida, a Colômbia, Camboja, Malásia, Quénia…

A ideia surgiu há cerca de nove anos, quando desenvolvi um projecto na salina de Makgadikgadi Pans, no Botswana. Talvez tenha sido por ouvir a palavra ‘disparar’ aplicada à acção de fotografar que tenha despertado, mas acho que nasceu de pensar muito que a ideia do troféu de caça é, de facto, um conceito ultrapassado, algo que pertence ao passado, à velha época colonial, e de acreditar que a fotografia de vida selvagem tem actualmente muito mais significado para o mundo.

Esta iniciativa não se trata de uma campanha contra os troféus de caça. É uma tentativa de criar algo novo e positivo, mas é claro que é melhor termos um Big 5 que celebre o mundo natural, e uma arte com animais que se mantêm vivos em vez de algo com imagens nas quais se posa junto de animais que acabámos de liquidar e que nunca tiveram uma verdadeira hipótese de defesa.

Este projecto consiste numa celebração da inacreditável vida selvagem que encontramos por este mundo fora e numa tentativa de fazer com que as pessoas falem e pensem acerca dela e nas ameaças que tantos animais enfrentam em virtude de factos como a perda de habitats, a caça furtiva, o tráfico ilegal de animais selvagens e as alterações climáticas. Neste momento há um milhão de espécies que enfrentam o risco de extinção.

Sempre fui um entusiasta da vida selvagem e da Natureza, mas como fotógrafo liguei-me cada vez mais a esta área. Quando percebemos o modo como tantas espécies se encontram ameaçadas, como acontece com as chitas, com os leões, com os elefantes, os pangolins ou animais menos conhecidos como algumas espécies de sapos ou de aves, passamos a querer fazer qualquer coisa para ajudar. Espero que seja isso que o New Big 5 Project consiga alcançar. Os 5 animais que os amantes da vida selvagem de todo o mundo elegeram para incluir no New Big 5 of Wildlife Photography – elefantes, gorilas, tigres, leões e ursos polares – deixaram de ser apenas alguns dos animais mais belos e incríveis do planeta. Todos estes 5 animais enfrentam sérias ameaças à sua existência. No fundo representam a ponta do icebergue. Representam todas as criaturas do planeta, muitas das quais se encontram em perigo. Das abelhas às baleias azuis, toda a vida selvagem é essencial ao equilíbrio da natureza, à saúde dos ecossistemas e ao futuro do nosso planeta. O nosso planeta é um lugar muito melhor com estes animais do que sem eles.

Quanto tempo foi necessário para desenvolver o projecto e para reunir tantos fotógrafos?

Tive a ideia há cerca de sete, oito anos, mas não arranquei naquela altura pois o trabalho e os compromissos que tinha não me permitiram fazê-lo, embora nunca tenha deixado de pensar nele. Pensava constantemente que era algo que devia existir e que tinha de ser feito.

Comecei a trabalhar nele no ano passado, pelo que calculo que tenha demorado cerca de sete meses a chegar ao ponto em que nos encontramos, exigindo muitas semanas, muitos dias inteirinhos, noites adentro… Espero que tenha valido a pena. Até agora já fui contactado por pessoas da Índia, da Austrália, do Butão, do Quénia… que dizem que adoram o projecto e que querem dar o seu contributo, o que é realmente compensador.

Quanto às pessoas envolvidas, Ami Vitale, a fotógrafa mundialmente famosa que acompanhou os últimos momentos de Sudan, o último rinoceronte branco macho do norte, foi uma das primeiras pessoas a aderir a este projecto. Falei com ela no ano passado e ela encorajou-me muito sendo uma das primeiras pessoas a apoiar-nos. A partir deste ponto comecei a contactar várias pessoas que quiseram aderir e muitas também deram entrevistas e fizeram podcasts acerca do projecto. Conseguimos o envolvimento de alguns dos meus fotógrafos preferidos, como Ami Vitale, Marsel van Oosten, Greg du Toit, Brent Stirton, Steve McCurry, Marina Cano, Art Wolfe…. E contar com o apoio de individualidades como Jane Goodall, Chris Packham, Jennifer Morgan, Joanna Lumley, Djimon Hounsou, Iain Douglas-Hamilton e muitos outros é absolutamente incrível.

Uma das coisas de que me orgulho muito é do facto de tanto os fotógrafos como os conservacionistas serem provenientes de todos os cantos do mundo. Por vezes a fotografia de conservação foca-se muito na comunidade ocidental branca e eu queria muito garantir que trabalhássemos com fotógrafos que não viessem apenas do Reino Unido, dos EUA, do Canadá… mas também do Líbano, do Peru, do Quénia, do México, da Tanzânia… O projecto ganhou muito com este facto.

Também trabalhámos com muitas instituições como a Save The Elephants, Dian Fossey, Greenpeace, a World Animal Protection e com organizações mais pequenas de todo o mundo como a HAkA, Communidad, Inti Wara Yassi e Conservation Through Public Health… o que para mim também foi importante.

O que espera obter com o projecto New Big 5?

O nosso principal objectivo é aumentar a consciencialização. Muitas pessoas preocupam-se com a vida selvagem mas talvez não saibam o quanto a situação se tornou grave para muitos animais. Como fotógrafo, viajo pelo mundo fora para os territórios destes animais já há cerca de 15 anos e é muito perturbador testemunhar e perceber as ameaças que eles enfrentam. Só há cerca de sete mil chitas. Há animais como as girafas e os leões, que a maior parte das pessoas imagina estarem bem, que enfrentam uma série ameaça de extinção. Os leões passaram de 200 mil exemplares para 20 mil em apenas 50 anos. Representam um dos meus animais preferidos e é difícil imaginar o mundo sem eles, sem girafas, sem chitas, sem elefantes, sem pangolins… A UICN já reportou que há cerca de um milhão de espécies ameaçadas de extinção graças à acção humana. Espero que sejamos capazes de evitá-la.

A votação internacional para os New Big 5 foi o primeiro passo. Tenho planos para os seguintes nos quais espero que sejamos capazes de reunir algum dinheiro para que se possa trabalhar na protecção da vida selvagem. Espero que isto seja apenas o início.

E como é que as pessoas podem envolver-se nesta iniciativa e noutras vias mais práticas para ajudar?

O melhor que as pessoas podem fazer agora é ajudar-nos a espalhar a mensagem. Queremos chegar ao maior número de pessoas possível em todo o mundo, queremos passar a mensagem de que é urgente agirmos para proteger a vida selvagem do nosso planeta. Portanto, se as pessoas puderem partilhar o projecto nas suas redes sociais (#newbig5#), falar com os seus amigos, com a família e com os colegas acerca dele, escrever sobre ele nos seus blogs, nas newsletters ou em grupos e fazer artigos, ficaremos muito gratos.

Queremos que as pessoas leiam as nossas peças e que falem acerca de assuntos como a “extinção silenciosa”, o óleo de palma, o tráfico ilegal de animais selvagens…

Se alguém quiser mesmo ajudar-nos, é importante que saiba que a pequena equipa por detrás do projecto New Big 5 trabalha sem qualquer tipo de fundos e que já o faz há meses sem qualquer tipo de remuneração. Para mantermos este projecto necessitaremos de ser pagos enquanto estivermos a trabalhar nele, pelo que se nos quiserem atribuir uma bolsa ou um fundo não hesitem em contactar-nos.

Porque é que este projecto é importante?

Neste momento as pessoas começam a pensar de outro modo nos animais selvagens e no mundo natural. Acredita-se que o Covid-19, que já matou tantas pessoas, possa ter advindo da comercialização de morcegos ou de pangolins nos mercados chineses. Há mais de dez anos que os cientistas nos têm vindo a alertar acerca dos coronavírus e dos seus perigos, avisos esses que não ouvimos e agora estamos a sofrer as consequências. Estes mesmos cientistas dizem-nos agora que temos de mudar o nosso comportamento não apenas em relação aos mercados de animais selvagens na Ásia, como também no modo como interagimos com a Natureza, no modo como a quantidade de habitats que estamos a destruir aproxima o contacto entre a vida selvagem e os humanos mais do que nunca, o que poderá traduzir-se em mais doenças. E dizem que a próxima pandemia poderá ser ainda pior do que esta. A pandemia encerrou parques nacionais e reservas em toda a África, na Ásia e em todo o mundo, o que se traduz em pobreza para o povo que vive e trabalha nestas regiões e em menos dinheiro para proteger as espécies, pelo que se espera um aumento da caça furtiva. Há muito em que pensar, como a contínua desflorestação, a perda de habitats, o tráfico ilegal de animais selvagens e as mudanças climáticas e a verdade é que tivemos tempo para parar e reflectir.

As pessoas parecem querer uma mudança em relação ao que se passa entre os humanos e o mundo natural e relativamente ao modo como vivemos. Espero que o projecto New Big 5 possa representar parte desta mudança.

Há uma ligação entre a fotografia de animais selvagens e a conservação?

As boas fotografias têm poder emocional. Conseguem fazer com que as pessoas parem e prestem atenção. Podem atraí-las para uma história, fazer com que se envolvam e em alguns casos podem alterar o desfecho dessa mesma história. Pensemos nas fotografias de Ami Vitale, por exemplo, que fotografou a morte de Sudan, o último rinoceronte macho branco do norte, ou em Steve Winter, que fotografou felinos de grande porte a viver como animais ‘domésticos’ em virtude do tráfico ilegal, ou em Brent Stirton, que cobriu histórias sobre a caça furtiva aos rinocerontes e aos pangolins, os mamíferos mais traficados em todo o mundo.

As pessoas gostam dos animais selvagens mas a informação e os factos presentes nos artigos nem sempre são suficientes. As fotografias podem servir como testemunho do que está em jogo e do que temos a perder se não protegermos os animais selvagens com quem partilhamos o planeta.

Dito isto, mesmo com todas aquelas fotos e provas do que está a acontecer, há muitos animais que enfrentam a sua extinção em virtude da acção humana.

O que pensa acerca da razão pela qual este tema teve mais impacto sobre as pessoas durante o surto de coronavírus e o lockdown? Como julga que podemos alterar o modo como valorizamos a Natureza?

Acho que a pandemia e o lockdown dirigiram as atenções das pessoas em sentidos interessantes. Para começar, todas as evidências apontam para que o vírus tenha vindo dos morcegos ou dos pangolins que são comercializados nos mercados chineses. O alastramento de doenças zoonóticas de animais é algo para o qual os cientistas nos alertam há mais de dez anos, pelo que agora as pessoas estão mais atentas a estes assuntos. Muitas pessoas só agora é que ouviram falar dos pangolins, que na verdade são os mamíferos mais traficados do mundo, com cerca de 200 mil a circular todos os anos. É bem possível que entrem em extinção devido ao seu emprego na medicina ‘tradicional’ chinesa. As doenças zoonóticas podem voltar a verificar-se e de um modo muito pior se não alterarmos o modo como interagimos com a Natureza, com a destruição do habitat que promove o contacto entre os povos, os animais e as suas doenças.

De modo geral, penso que as pessoas tiveram mais tempo para fazer uma pausa e para pensar. As pessoas foram forçadas a abrandar e agora dão passeios, viajam menos e começam a apreciar mais as suas próprias redondezas. Tudo isso é bom, esperemos que sejamos capazes de levar esta experiência para o futuro. Sinto que há muita gente que não quer regressar à vida que tinha anteriormente. Acho que agora as pessoas estão mais interessadas em cuidar da vida selvagem do que nunca e que querem ver mudanças por parte dos nossos governos e na relação que todos nós temos com a Natureza. A Natureza tem ficado de lado ao longo dos anos e as pessoas estão a começar a apreciá-la novamente e a perceber o quanto é importante para nós.

Outra coisa acerca do lockdown: Sei que é um pouco aborrecido para algumas pessoas. Para outras, o Covid-19 significa vida ou morte e não apenas uma infecção. Tenho falado com pessoas que pertencem a organizações de protecção de animais selvagens e que estão seriamente preocupadas com os povos que vivem em regiões naturais. Os parques nacionais em África, na Ásia e em muitos outros lugares foram obrigados a encerrar. Houve empregos e negócios que desapareceram. As pessoas que antes já não tinham muito estão agora a lutar pela sua sobrevivência e para alimentar as suas famílias. A caça furtiva está a aumentar como consequência de tudo isto, tanto para a obtenção de carne como para o comércio ilegal.

Kaddu Sebunya, CEO da African Wildlife Foundation, disse-me que espera que mais pessoas morram de pobreza graças ao Covid-19 do que em virtude da própria doença. Esta crise terá impactos duradouros para muita gente e também para a vida selvagem. O melhor que temos a fazer é tentar ajudar as pessoas e os animais que vão sendo afectados e tentar aprender qualquer coisa com o que estamos a viver.

O que espera que este projecto alcance?

O New Big 5 é um projecto animado e excitante que pode despertar muitas conversas: “quais seriam os teus 5 animais?” Contudo, há uma questão séria por detrás de si que reside no facto de haver tantos animais no mundo a enfrentar ameaças à sua existência. Estamos à beira de uma sexta extinção massiva, com um milhão de animais a enfrentar o seu desaparecimento, desde leões, elefantes e chitas a animais de menor porte como sapos, aves ou insectos. Cada um deles é demasiado valioso para se perder.

Os problemas que enfrentam são causados pelos humanos, seja pela caça ilegal, seja para tráfico, seja pela perda de habitat ou pela desflorestação. Isto significa que os humanos também podem mudar e resolver este problema. Ainda não é demasiado tarde para estes animais e seria terrível o planeta perder mais da sua incrível diversidade de espécies. Espero que este projecto faça a diferença, que traga alguma luz sobre estes assuntos e sobre o trabalho que as pessoas estão a fazer para salvar os animais selvagens.

Já tivemos algum impacto. Estamos a receber mensagens de todo o mundo, o que é fantástico.

Votou em que animais e porquê?

Sou um grande entusiasta da fotografia de todo o tipo de animais, grandes ou pequenos, famosos ou virtualmente desconhecidos. Tenho de indicar os leões como os meus preferidos pois sou capaz de passar dias a fio a fotografá-los. São belos e poderosos, reais, magníficos e afectivos embora as pessoas nem sempre pensem neles nestes termos. Os elefantes, os gorilas e os leopardos também perfazem os meus Big 5 e ainda os babuínos gelada. Uma das memórias mais felizes que tenho é a de estar sentado durante horas com eles nos altos planaltos das Montanhas Simien, na Etiópia, enquanto mastigavam erva e se penteavam uns aos outros.

Agora que já sabemos o resultado das votações, qual será o próximo passo do New big 5 Project?

Planeio manter o website activo, com novos artigos, entrevistas e galerias de fotos. Depende um pouco também de conseguirmos algum financiamento. Passei muito tempo a trabalhar neste projecto e assumi muitos custos, pelo que espero conseguir obter fundos para manter o website a funcionar. Desde que pensei neste projecto que alimento a ideia de produzir um livro de fotografia sobre ele próprio. Espero conseguir concretizar este objectivo e incluir nele todos os magníficos fotógrafos que se envolveram e, quem sabe, ainda outros. Se irá continuar? Sim, mas a quantidade de tempo que poderei dedicar-lhe dependerá de financiamentos. Preciso de encontrar um equilíbrio entre o nosso próprio sustento e o trabalho nesta iniciativa. Desde que começámos que temos estado em contacto com muitos fotógrafos, escritores, artistas, empresas e com outras pessoas que apreciam o seu conceito e que desejam envolver-se. Espero que venhamos a ter grandes colaborações. Como em tudo e como sempre, depende de termos tempo, dinheiro e recursos.

Para mais informações, visite: www.newbig5.com e assista a www.youtube.com/watch?v=CgvouUtQcTQ

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