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Um dos mais enigmáticos países do Hemisfério Sul, o Quénia tem tanto de deslumbre como de encantamento. De Nairobi a Masai Mara e a Mombasa, a Travel & Safaris aventura-se num safari intemporal deixando-se seduzir em cada uma das suas etapas

Chegada a Nairobi

São menos de 30 os minutos necessários para de automóvel chegarmos do Aeroporto Internacional Jomo Kenyatta em Nairobi, a capital do Quénia, ao Sarova Stanley Hotel e, então, mergulharmos numa autêntica viagem no tempo sem, no entanto, sermos obrigados a abdicar dos benefícios que a modernidade trouxe. A chegada a este país da África Oriental é marcada logo de início pelo fascínio que aquele continente exerce sobre a maioria dos europeus, encanto esse que se mantém e que ganha ainda maior fôlego quando chegados ao velho Stanley Hotel. Estabelecido em 1902 por Mayence Bent e baptizado em honra do célebre explorador galês que também ficou na História pela demanda empreendida por David Livingstone, Henry Morton Stanley, e autor da famosa frase “Dr. Livingstone, I presume?”, o Sarova Stanley Hotel é desde o início do século XX conhecido como um tradicional ponto de encontro de quem parte em safari no Quénia. Tendo recebido personalidades da realeza, políticos, estrelas de cinema e autores consagrados como Hemingway, mantém a aura colonial até aos dias de hoje recriando a atmosfera própria da época das grandes caçadas. É aqui que ficamos na primeira noite passada neste país onde facilmente nos deslumbramos com o poder da Natureza e a autenticidade das suas gentes. Logo à chegada, após o almoço, empreendemos um safari, mas desta vez fotográfico que os dias das caçadas estão há muito ultrapassados. Dirigimo-nos ao Parque Nacional de Nairobi, estabelecido em 1946 e o primeiro do país, que se situa a cerca de sete quilómetros da capital e que conta com uma considerável população de animais selvagens, sobretudo herbívoros, representando durante a estação seca um dos santuários de rinocerontes mais bem-sucedidos do Quénia. Ao final do dia, e depois de brindados com experiências tão novas e intensas, lugar ainda para mais uma, o jantar no Restaurante Carnivore. Como o nome indica, a especialidade do Carnivore é a carne. Localizado do bairro de Langata, em Nairobi, abriu portas ainda nos anos 80, calculando-se que em 1999 servia cerca de mil pessoas por dia que ali recorriam para saborear carne de animais selvagens – girafa, gnu, avestruz e crocodilo – criados no Hopcraft Ranch, a 40 quilómetros de Nairobi. Desde 2004, data em que a venda de carne de animais selvagens passou a ser proibida, o Carnivore mantém o rodízio, apostando agora na vaca, no porco, no cordeiro e na galinha, bem como na carne de avestruz e crocodilo (criados em quintas especialmente para o efeito). O festim de carnes é assim garantido, havendo também opção vegetariana para quem a prefira, mas eventualmente o que mais destaca este lugar será o seu ambiente, as tradições da própria casa e a sua frequência, sempre festiva e alegre, representando um popular destino turístico que ao longo dos anos se mantém absolutamente incontornável. As carnes são assadas em espadas tradicionais masai num carvoeiro logo à entrada do restaurante e o festim que vai sendo servido por um exército de carvoeiros que circulam de mesa em mesa termina apenas quando o cliente se declara vencido e incapaz de prosseguir com a refeição, como se de uma prova se tratasse. Segue-se a sobremesa e os cafés e o merecido descanso no Stanley Hotel, que com o seu luxo promete a adequada recuperação para as aventuras do dia seguinte.

De Nairobi a Masai Mara

E ainda bem que assim é, já que a alvorada realiza-se cedo, com partida após o pequeno-almoço para a Reserva Nacional de Masai Mara. Após uma viagem de jipe de cerca de cinco horas, a chegada ao acampamento é brindada com um almoço tardio no Sarova Mara Game Camp, localizado no coração da reserva e cercado por dois ribeiros. O alojamento realiza-se em tendas de luxo com uma espectacular vista para as planícies da savana, contando-se com um restaurante principal, piscina com bar e um extenso lago. A seguir à refeição será tempo de dar início a um dos mais desejados momentos desta experiência, o safari. O Quénia é internacionalmente reconhecido pelos safaris que proporciona, garantindo momentos que marcam para sempre as nossas vidas e aqui a probabilidade de testemunharmos episódios das vidas dos animais selvagens do continente africano em todo o seu esplendor é muitíssimo grande, garantindo-se o avistamento de leões, chitas, leopardos, elefantes, búfalos, hienas, rinocerontes, topis, zebras e girafas, entre muitos outros, não esquecendo obviamente o fenómeno que todos os anos aqui se repete, a espectacular migração de milhões de gnus, zebras e outros herbívoros que atravessam o Rio Mara em busca de pasto verde possibilitando-nos viver aquela África intocada e cujo cenário é absolutamente espantoso, a par com uma incrível abundância de vida selvagem. Provavelmente o principal destino de safaris do país, o Parque Nacional de Masai Mara situa-se junto à fronteira com a Tanzânia, junto ao Parque Nacional do Serengeti, herdando o nome em honra do povo masai e sendo reconhecido como a joia da observação da vida selvagem. Ali habitam cerca de 95 espécies de mamíferos, anfíbios e répteis, bem como mais de 400 espécies de aves. Uma das melhores experiências que se poderá viver neste território será a de realizar um passeio de balão, que proporcionará assistir por exemplo à migração das imensas manadas de gnus, zebras e gazelas. Toda a experiência do Mara é esmagadora; as planícies são extensas, prolongando-se até onde a vista alcança e marcando-se fundo na alma de quem as testemunha. As colinas parecem intermináveis, entrecortadas por bosques e românticas acácias. Com o cair da noite chega a hora de regressar ao lodge para jantar e saborear uma noite completamente diferente, ao sabor da savana africana, mas em pleno luxo proporcionado pelas tendas do Sarova Mara Game Camp.

No coração da savana africana

Nova alvorada brindada com um magnífico pequeno-almoço a que se segue um safari que ocupará o dia todo. O almoço realiza-se com picnic boxes enquanto se assiste ao dia dos animais que vamos encontrando na reserva. Os Big Five estão aqui, indiferentes à presença humana. Com sorte assistimos à caçada de uma chita, o animal mais rápido do mundo terrestre, que nas suas corridas consegue alcançar os 110 quilómetros por hora. Os leopardos, uma das espécies mais reservadas da savana africana, serão mais facilmente avistados no topo das árvores enquanto perscrutam o território em seu torno, sempre atentos. Em Masai Mara decidimo-nos por visitar uma aldeia masai, com as suas casas feitas de estrume de vaca e estacas de acácias, as manyatas, que em conjunto compõem uma boma. São as mulheres que constroem as habitações enquanto os homens ficam encarregues de garantir a segurança da boma e do gado. O trabalho pesado é, de resto, deixado para as mulheres, que asseguram a sua realização, envelhecendo por isso bastante mais cedo do que os homens. A estes cabia antigamente a caçada de um leão quando chegassem à idade adulta, o que já não acontece. Povo semi-nómada, apesar de manter muitas das suas tradições culturais, os masai também interagem com o chamado “mundo moderno” para fins sobretudo económicos, mantendo-se como o único grupo étnico autorizado a viajar livremente pela fronteira entre o Quénia e a Tanzânia. De estatura alta, elegante e traços nobres e altivos, os masai destacam-se das outras tribos também pela cor que usam, o encarnado vivo, mantendo uma sociedade patriarcal onde a riqueza se mede pelo número de cabeças de gado que contam e que constitui a principal fonte de alimento. Como em tantas outras sociedades, aos homens está autorizada a prática da poligamia, o que favorece uma descendência numerosa, facto que juntamente com o número de cabeças de gado também estabelece o seu nível de riqueza. Apenas os guerreiros podem manter os cabelos compridos, sendo prática de cada momento crucial da vida (passagem para a idade adulta, casamento, etc.) rapar-se o cabelo de modo a assinalar a entrada em cada nova etapa. Além da impressionante presença que cada um deles detém, os masai são um povo um tanto enigmático e certamente muito fascinante, conhecidos como tendo sido grandes caçadores de leões no passado e preservando as suas tradições ao longo dos tempos, como é o caso das suas danças, que incluem os elevados saltos que ajudaram a torná-los famosos.

De Masai Mara ao Lago Nakuru

O dia seguinte é marcado por mais uma mudança, desta vez para o Parque Nacional do Lago Nakuru, localizado a cerca de quatro horas e meia de automóvel, rumo a norte. Após o pequeno-almoço partimos então com destino ao Sarova Lion Hill Game Lodge, onde ficaremos instalados na próxima noite e onde chegaremos ao final da manhã. Almoçaremos no restaurante do lodge, que detém uma vista panorâmica espectacular sobe o lago e o parque nacional erguendo ali os seus encantadores chalets de estilo intemporal. Já em safari no parque nacional, visitamos o Lago Nakuru, o mais famoso do Rift Valley que dada a alcalinidade das suas águas recebe uma magnífica diversidade de aves. Localizado a 160 quilómetros de Nairobi, é mundialmente reconhecido pela abundância de flamingos que lhe dão um tom rosado absolutamente maravilhoso. Neste que é o segundo parque nacional mais visitado do Quénia encontramos a girafa de Rothschild, sendo igualmente fácil cruzarmo-nos com zebras, gazelas, búfalos e leopardos, além de muitos outros animais selvagens. Numa tarde de intensas emoções, o dia encerra com jantar no lodge mas nunca sem antes se regressar ao terraço privativo do chalet em que se fica instalado para recuperar a tradição de beber um gin e assistir ao pôr-do-sol usando o argumento de esta prática afastar a malária se assim se demonstrar necessário.

Mombasa no horizonte

O amanhecer do novo dia marca a partida do Sarova Lion Hill Game Lodge rumo a Nairobi e depois para Mombasa, na costa. De Nairobi para Mombasa a viagem realiza-se a bordo de um comboio em primeira classe com partida às 15.00 e chegada por volta das 20.00 após uma viagem que atravessa o Parque Nacional de Tsavo num percurso onde se avistam numerosas espécies animais que, lá fora, desfilam ao passar do Madaraka Express. O Sarova Whitesands Beach Resort & Spa debruça-se sobre uma das maiores praias protegidas pelo parque marinho, representando um dos melhores hotéis de Mombasa e situando-se a meia hora do centro da cidade. Aqui, onde ficaremos mais três noites, o ambiente é completamente diferente, sendo marcante a influência árabe na cultura queniana. Mombasa foi no passado o centro de poder e do governo do país, realizando-se a mudança dos mesmos para Nairobi apenas em 1906. Vasco da Gama assinalou a sua chegada a estas margens em 1498 e pouco mais tarde Portugal assumia o domínio das trocas comerciais da costa oriental ficando presente por mais de 200 anos, era de que é emblemático o Forte de Jesus, erguido em 1593. A investida dos árabes omanitas dar-se-ia em 1652 perto de Zanzibar e os 40 anos seguintes ficariam marcados pelos ataques a Mombasa. 1696 marcaria o cerco do Forte de Jesus por uma frota omanita e os tempos tornar-se-iam ainda mais conturbados com apenas dois mil habitantes a permanecerem vivos no final da investida. A saída portuguesa tornou-se inevitável e os governadores árabes assumiriam a cidade até 1832, data em que o sultão alterou a capital de Mascate para Zanzibar. A chegada britânica dar-se-ia mais tarde, em 1895. Cheia de passado e de história, Mombasa é uma cidade que deslumbra profundamente não só pelo seu percurso no tempo mas pelas suas gentes, que acolhem os portugueses com um misto de simpatia e carinho, mas também pela arquitectura presente no coração da cidade. O tempo corre lento por aqui, mas também depressa já que o deslumbre é tão intenso e marcante. Há ainda que aproveitar os minutos restantes para desfrutar das praias de areias brancas e que mergulhar nas águas quentes do Índico. Ao jantar damos um salto ao famoso Tamarind Dhow para uma refeição de marisco que recria os tempos perdidos proporcionando um passeio junto à costa a bordo de um romântico dhow, embarcação local cujas velas se debruçam encantadoramente para as águas sob um luar que no Hemisfério Sul se torna ainda mais intenso e profundamente marcante. A viagem conclui-se sabendo-se interiormente que o regresso se realizará. O Quénia é assim, entranha-se na alma de um modo inesquecível reclamando sempre o regresso de quem por ele um dia se apaixonou.

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www.sarovahotels.com

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