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Destino de exotismo e de maravilha, o Cambodja seduz pela arquitectura dos seus monumentos, pela expressão da Natureza e, sobretudo, pela dignidade e pela força do seu povo, que se torna, tal como ele, cada vez mais belo à medida que avançamos na descoberta do seu passado. Ainda não muito divulgado, esconde riquezas nacionais como se de segredos se tratassem

Não será surpreendente que o povo cambodjano tenha conseguido reerguer-se e avançar rumo a um futuro mais equilibrado nos últimos 30 anos. Se recuarmos no tempo e visitarmos as manifestações artísticas deste povo será fácil concluir que as mesmas traduzem a construção de um império notável, com marcos que remontam mesmo ao longínquo passado do império khmer, nascido em 802 e que reinou mais de 600 anos. Ao longo deste período foram construídos os mais monumentais e magníficos templos, como Angkor Wat e o budismo e o hinduísmo foram-se instalando em grande parte da região.

Colonizado pelos franceses em meados do século XIX, o Cambodja obteve independência em 1953, para na década de 70 cair nas mãos das forças do regime khmer vermelho e no radicalismo dos ideais comunistas, entrando então num período de recessão e de profundo sofrimento por parte da população, que sob o domínio de Pol Pot e a forte influência do modelo chinês se viu obrigada a marchar para o campo e a trabalhar a terra independentemente dos seus conhecimentos e formação. Só nos anos 90 é que o Cambodja conseguiria finalmente libertar-se deste domínio, regressando então à monarquia, período após o qual o país começou a reerguer-se e a recuperar a sua economia.

Phnom Penh

Capital do Cambodja e principal cenário das acções dos khmer vermelhos no passado, Phnom Penh era vista nos anos 20 como a mais bela colónia francesa na Indochina. Capital do Cambodja desde 1432, manteve este estatuto até 1505, data em que o rei alterou a sua morada em virtude dos perigos contínuos em que incorria graças àqueles que pretendiam usurpar-lhe o trono. Durante 360 anos, Phnom Penh recordou em silêncio e tristeza os dias antigos em que servia de capital, estatuto que voltou a alcançar mas já em 1866, quando o Rei Norodom I decretou que a cidade deveria assumir-se como o principal assento do governo, iniciando-se inclusivamente ali a construção do Palácio Nacional. Durante a Guerra do Vietname, a cidade serviu de base ao exército vietnamita do norte, pelos viet cong e por milhares de refugiados que tentavam escapar ao conflito armado. Após a sua queda, a capital foi torturada pelos khmer vermelhos, que infligiram todo o tipo de sofrimento à população, dizimando todos aqueles que eram letrados ou que de algum modo sugeriam a ideia de serem cultos ou de se situarem próximos da classe intelectual. Nos piores dias, bastava usar óculos para se ser considerado intelectual, sendo certo o consequente fuzilamento. A recordar este período, a antiga escola secundária da cidade é actualmente o Museu do Genocídio Tuol Sleng. Durante o regime de Pol Pot, o edifício foi transformado na Unidade de Aprisionamento e Interrogatório S-21, agora exibindo a triste memória de um espaço que testemunhou múltiplas e elaboradas torturas, mortes e humilhações do género humano.

Actualmente a cidade contrasta o movimento e o incessante ruído das bicicletas, dos tuk-tuks e das motos com a presença de centenas de monges budistas que tranquilamente caminham em direcção aos templos, mais parecendo que assistimos ao decorrer de dois tempos, dois mundos paralelos e em todos os aspectos antagónicos, mas que aqui se entrelaçam com uma lógica especial e parecem fazer sentido. Os mercados são plenos de vida e de agitação, de cor e de aromas distintos, com sedas maravilhosas a competir com as comidas e outros artigos pela atenção dos viajantes desde as seis horas da manhã, enquanto, não surpreendentemente, um elefante caminha pela rua central. A gastronomia cambojana é, a propósito, considerada como uma das mais interessantes de toda a Ásia, combinando o que de melhor ali há, desde as especiarias aos molhos, e normalmente cozinhada no carvão.

Ainda em Phnom Penh, visite o Palácio Real, morada do rei e autêntico santuário de paz que integra pavilhões de arte, magníficos e exuberantes jardins e um vasto conjunto de templos do tradicional estilo khmer. Entre estes encontrará o Silver Pagoda, que alberga a representação de Buda em cristal Baccarat e que deve o seu nome ao facto de o chão ter sido elaborado com mais de cinco mil peças de prata, cada uma a pesar cerca de um quilo. Ali, o ouro, o mármore e as pedras preciosas, o artesanato, as joias e os frescos invocam a delicadeza e a sofisticação da arte khmer.

Angkor Wat

Foi construído na antiga capital do Camboja, no início do século XII, quando o rei Suryanvarman II deslocou para Angkor o centro decisório do seu reino. O maravilhoso Templo de Angkor Wat, centro religioso e capital do reino, só veria a sua construção interrompida já após a morte de Suryanvarman II, constituindo até hoje a maior estrutura religiosa jamais erigida. Representa o expoente da arquitectura clássica khmer, tendo sido declarado Património da Humanidade em Dezembro de 1992 pela UNESCO. O recinto, que incluía o palácio real e desempenhava as funções de templo principal, tinha capacidade para abrigar cerca de 20 mil pessoas, sendo inicialmente dedicado a Vishnu e mais tarde, nos séculos XIV e XV, ao budismo, com a chegada dos primeiros monges do Sri Lanca que o dedicaram ao culto teravada, pouco tempo antes do seu abandono em 1432. Embora não sejam certas as razões do seu abandono pela população e pela monarquia, que mais tarde ainda ali regressou para optar novamente pelo abandono e desta vez em definitivo no século XVI, há certeza de que os monges budistas ali permaneceram durante todo aquele período. Com a partida definitiva dos seus habitantes, Angkor ver-se-ia então absolutamente engolida pela selva, com excepção do templo de Angkor Wat, onde persistiu a presença dos monges budistas. Foi em 1586 que o capuchinho português António da Madalena representou a primeira presença de um ocidental naquela região e o “achamento” de Angkor, que o historiador Diogo do Couto narrou como “uma construção de tal modo extraordinária que não é possível descrevê-la por escrito; especialmente é diferente de qualquer outro edifício no mundo. Possui torres, decoração e todos os refinamentos que o génio humano pode conceber.” Os trabalhos de recuperação do complexo, que se iniciaram no início do século XX, foram interrompidos na década de 70 dadas a revolução dos khmer vermelhos e mais tarde retomadas, continuando ainda a sua realização até aos dias de hoje.

Sihanoukville

Em khmer Kampong Som, é uma cidade costeira com praias absolutamente paradisíacas e ainda não muito exploradas pelo turismo, embora já conte com alguns hotéis de luxo e com as facilidades do mundo moderno. Na Serendipity Beach, a praia mais concorrida da região, a frequência é sobretudo preenchida por mochileiros europeus em busca de sol, praia de areias brancas, boas temperaturas, wi-fi e muita festa, que de resto dura o ano inteiro. Devido à presença de europeus, ao investimento chinês e às suas características como centro recreativo, Sihanoukville acaba por representar um os mais variados e dinâmicos polos culturais do país, embora nada aproxime o turismo no Cambodja com o do ponto em que se encontram paragens próximas como, por exemplo, a Tailândia. De suster a respiração e deslumbrar o mais exigente dos viajantes, as ilhas desta região são absolutamente esmagadoras no que diz respeito à sua beleza e equilíbrio com o meio natural. Uma visita às ilhas de Koh Rong, Koh Rong Sanloem, Koh Puos, Koh Dek Koul e Koh Bong Po-oun/ Song Saa torna difícil acreditar que será possível encontrar locais ainda em tão puro estado e tão maravilhosos como estes.

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