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Roupas leves, claras e confortáveis, fato de banho, ténis ou sandálias na mala, um par de óculos escuros e uma capa para a chuva. Eis a bagagem necessária para arrancar, dar um salto ao outro lado do mundo e rumar até às Filipinas nesta altura do ano em que as temperaturas rondam os 25 graus Celsius

A temperatura será a ideal para viajar e conhecer esta nação composta por cerca de 7640 ilhas e das quais cerca de duas mil são desabitadas. Não esqueçamos o protector solar, o repelente de insectos e, bem entendido, alguns preceitos que abrirão muitas portas e, sobretudo, atrairão a simpatia das gentes filipinas: os mais idosos não deverão nunca ser referidos pelo seu primeiro nome mas por Tito ou Tita (tio/tia) ou por Lolo ou Lola (avô/avó) caso a idade seja mais avançada. Po e Opo são termos respeitosos e é sempre um gesto muito apreciado acenar um adeus a quem se nos dirige com o mesmo gesto, como na verdade em todo o resto do mundo. Avancemos pois na aventura da descoberta deste verdadeiro paraíso asiático.

Onde Magalhães se desorientou verdadeiramente

O arquipélago das Filipinas encontra-se dividido em três partes. A maior será Luzon, mais a norte e onde se situa Manila, a capital; seguida de Visayas, um grupo de ilhas que inclui Panay, Negros, Cebu, Bohol, Leyte, Samar e Masbate; e Mindanao, a segunda maior ilha, já na ponta sul do arquipélago. No conjunto total deste território do sudeste asiático localizado no Pacífico encontraremos cidades agitadas, praias de uma beleza absolutamente esmagadora, montanhas imponentes e uma enorme oferta de lugares para descobrir. Como não poderia deixar de ser, na História das Filipinas está um português, o célebre navegador Fernão de Magalhães, que ao serviço da coroa espanhola procurava então provar que as Ilhas Molucas, tão valorizadas pelo precioso cravo, se situavam em domínio espanhol (no seguimento do Tratado de Tordesilhas, que dividia o mundo entre Portugal e Espanha). Assim, realizando a primeira viagem de circum-navegação da Terra (entre 1519 e 1522), Magalhães alcançou as Filipinas verificando então, de acordo com o historiador Luíz Filipe Thomas, que as Molucas se encontravam mais a Leste e que, portanto, pertenciam na verdade a mares portugueses. Ora, colocando-se ao serviço de Espanha para provar o argumento desta nação relativamente às ilhas das especiarias, Magalhães ter-se-ia colocado contra D. Manuel I mas, na teoria de Filipe Thomaz, se reconhecesse o seu erro ficaria em fraca posição perante o rei espanhol. Não reconhecer o próprio erro deixá-lo-ia de mal com a própria consciência… Terá sido um Magalhães em profundo dilema aquele que nas ilhas filipinas e apenas a uma semana de alcançar as Molucas começou a imiscuir-se em assuntos tribais que, no limite, o levariam à própria morte. Tendo ancorado na Ilha de Cebu, começou por levar o chefe local e os nativos a converter-se ao catolicismo e posteriormente precipitaria a própria morte ao tentar o mesmo na Ilha de Mactan com o chefe Lapu-Lapu, mas alcançando um outro desfecho. A 27 de Abril de 1521 morreria às mãos deste último, que seria coroado herói nas Filipinas. Só cerca de 22 anos mais tarde é que, mediante uma expedição de colonização empreendida por Ruy López de Villalobos, as ilhas de Leyte e Samar seriam renomeadas como Filipinas, em homenagem ao Rei Filipe II, e apenas em 1565 é que o restante arquipélago passaria a ser referido como Capitania-Geral das Filipinas. Os espanhóis estariam ali presentes ao longo dos 300 anos seguintes. A seguir viriam os britânicos e apenas em finais do século XIX se verificaria a Revolução Filipina que resultaria na primeira república do país. Espanha não reconheceria a independência e cederia o território aos EUA, que ali se mantiveram após a Guerra Filipo-Americana até à invasão japonesa aquando da Segunda Grande Guerra. Seguir-se-ia a libertação, com um período democrático breve e uma ditadura mais tarde derrubada pela Revolução do Poder Popular. Ainda aquando do domínio espanhol, destacar-se-ia aquele que viria a ser homenageado através da construção de uma estátua de 15 metros de altura e cujo nome seria dado a um dos maiores parques asiáticos: Rizal. José Protasio Rizal Mercado y Alonso Realonda, escritor, poeta, oftalmologista e jornalista revelou-se sobretudo como revolucionário nacionalista e importante defensor da independência das Filipinas, sendo actualmente recordado como um dos grandes heróis daquela nação. A luta pela independência custar-lhe-ia o próprio fuzilamento, onde ao lado das muralhas de Forte Santiago está situado o Parque Rizal que lhe foi dedicado em 1913.

Maravilhas do Anel de Fogo

Localizadas no Anel de Fogo, as Filipinas distinguem-se pelos campos de arroz de tom esmeralda, pelas cidades fervilhantes, por vulcões impressionantes e por praias absolutamente pristinas e tão diversas que satisfazem o mais exótico gosto, desde manchas de areia abandonadas no meio do oceano a paisagens vulcânicas que escondem lagoas secretas e ilhas de grandes extensões como Luzon e Mindanao. Para os entusiastas do mergulho e do sol, Visayas é a aposta certa na busca de passeios pelas ilhas e de praias perfeitas. Já os mais aventureiros apreciarão o deserto do litoral em Palawan para um pouco de isolamento e desafio pessoal. Ambas as costas têm vindo ultimamente a atrair mais e mais praticantes de surf mas este país é também muito procurado pelos amantes de kiteboarding e de kayak, especialmente em Boracay e Pagudpud, no norte de Luzon. Em terra, o trekking pode ser praticado em quase todo o território ao mesmo tempo que a bicicleta de montanha e o canyoning têm vindo a adquirir mais adeptos.

Em termos culturais verifica-se nas Filipinas o mesmo que a nível geográfico: uma total independência relativamente ao continente tanto em termos espirituais como culturais. O país é maioritariamente católico em virtude de um domínio espanhol de mais de 300 anos, sendo inúmeros os vestígios espanhóis e de que são exemplo os exuberantes festivais de cada cidade e as igrejas barrocas. A língua denuncia, no entanto, os colonizadores seguintes, com o inglês a ser dominado por uma vasta fatia da população. Apesar de todas estas fortes influências, a alma nacional permanece fiel a si mesma brilhando nas suas gentes cujas simpatia e simplicidade conquistam para sempre o viajante e que, à semelhança do que fazem tão habilmente com a inconstância ou a diversidade do clima, se adaptam e tiram partido de cada momento da vida, deixando-se levar pelo compasso do dia. É, de resto, este o exemplo a seguir nesta terra do sudeste asiático: descontrair, fazer poucos planos e deixar que sejam as circunstâncias a marcar as decisões e a sugerir os rumos a tomar.

Cidades inesquecíveis

Capital das Filipinas, Manila trata-se de uma cidade histórica plena de oferta cultural, com museus, parques e teatros. É conhecida pela sua gastronomia variada e pelos mercados de street food. Davao, a maior cidade filipina e capital da região homónima, representa o ponto de partida para destinos muito apreciados como o Eden Nature Park, o Malagos Garden Resort e o Jack’s Ridge, onde se janta com uma vista espectacular sobre a cidade. A mais alta montanha das Filipinas e entusiasmo de qualquer montanhista, o Monte Apo, também se encontra nas imediações da cidade de Davao, vigiando-a do alto dos seus 2954 metros. É ainda em Davao que poderemos encontrar a gigante águia filipina, espécie fortemente ameaçada e nomeada ave nacional. Representando um harmonioso equilíbrio entre a descontracção própria de uma praia e um modo de vida cosmopolita, a cidade de Cebu representa um dos principais destinos de férias. É também a mais antiga cidade filipina e berço do cristianismo nas Filipinas onde é possível nadar com uma grande diversidade de espécies ou desfrutar das Cataratas de Kawasan. Localizada na costa ocidental de Luzon, perto de Manila, Vigan foi declarada Património Mundial pela UNESCO datando da era colonial espanhola e representando um ponto onde a arquitectura reflecte a fusão da arte asiática com a europeia.

Paisagens, arrozais e parques naturais

As paisagens naturais e o modo como o Homem soube ao longo do tempo interagir com esta de modo a dela usufruir acrescentando-lhe, voluntária ou involuntariamente, beleza e valor merecem a atenção do viajante. A vila de Ifugao é um exemplo. Ali, há já dois mil anos que se constroem terraços adaptados às curvas do relevo nas montanhas para o cultivo do arroz. Os arrozais formaram uma paisagem de enorme beleza que reflecte a harmonia já referida, tendo inclusivamente sido classificados os seus terraços como Património Mundial em 1995. Numa perspectiva apenas natural e agora já sem interferência humana, as famosas Chocolate Hills, na Ilha de Bohol, devem a sua beleza paisagística à formação natural, tendo sido classificadas como Monumento Geológico Nacional. Recorde-se que as Filipinas são morada de mais de 30 parques naturais e dos quais se destacam o Calauit Safari Park, o O Parque Nacional do rio subterrâneo de Puerto Princesa, também Património da Humanidade e que dispõe de um importante habitat para a conservação da biodiversidade, bem como uma das florestas mais importantes de toda a Ásia e um rio que emerge directamente no mar. Tal como noutros parques como o Parque Nacional de Minalungao ou da Península de Caramoan, as actividades a desenvolver nestes espaços são diversas e sobretudo muito atraentes, estando entre elas a observação de animais, o snorkeling ou o acampamento, entre outras.

Um mergulho que se quer interminável

Boracay é uma praia já sobejamente conhecida e entre os milhares de ilhas existentes nas Filipinas destacam-se agora as que de algum modo fogem ao percurso típico e que representam talvez lugares ainda menos explorados e muitíssimo belos. A Ilha de Panglao é sem dúvida um ponto de excelência para prática de mergulho, além de contar com praias de areias brancas como Alona, Tawala e Doljo, proporcionando ainda passeios de observação de golfinhos e de baleias. Integrando esta ilha, El Nido é absolutamente indescritível dadas as suas condições geográficas e paisagísticas, servindo como excelente ponto de partida para uma aventura passada a explorar os segredos do arquipélago de Bacuit. Em Camiguin encontramos sete vulcões que constituem um dos seus pontos fortes. A ilha está cheia de maravilhas naturais, como lagoas, lagos, cataratas e praias pristinas. Siargao, perto de Mindanao, é especialmente apreciada pelos amantes de surf destacando-se pela qualidade das ondas ali formadas, pela beleza das suas águas azuis e pelos resorts absolutamente fantásticos que ali podemos encontrar. Calauit, famosa pelas águas cristalinas das duas costas, proporciona a experiência única de nadar com dugongos, familiares do peixe-boi cujo nome deriva da palavra malaia para sereia. Tempo ainda para visitar Coron, terceira maior ilha das Calamian, conhecida por ter a massa de água interior mais limpa de todo o país, o Lago Kayangan, e o melhor ponto para chegar ao final de uma viagem, pensar bem e decidir… ficar!

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