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O lugar onde a Natureza e os animais selvagens nos recordam a vida em absoluta liberdade

Criado em 1918 para proteger a região devastada pelo Vulcão Novarupta e o Vale dos Dez Mil Fumos, o Parque Nacional e Reserva de Katmai guarda também cerca de nove mil anos da história humana representando um importante habitat do salmão e de milhares de ursos pardos. Localiza-se no norte da Península do Alasca, a noroeste de Kodiak Island e a sudoeste de Homer, encontrando na cidade de King Salmon, a cerca de 466 quilómetros de Anchorage, o seu quartel-general. É a partir desta pequena cidade que poderemos partir à descoberta da vida selvagem própria do Alasca. No sopé da península, esta comunidade erguida em torno de uma antiga base militar da Segunda Guerra Mundial é hoje um lugar de paz de tranquilidade onde residem apenas cerca de 400 pessoas e concorrido destino dos amantes de pesca que ali rumam na expectativa de capturar nas águas do Rio Naknek as cinco espécies de salmão que ali assinalam a sua presença.

Brooks Camp

Ao invés da maioria dos parques nacionais dos Estado Unidos da América, o Parque de Katmai é quase exclusivamente acessível apenas por avião ou por barco. Grande parte desta região é raramente visitada, sendo por isso inúmeras as oportunidades de testemunhar a esplendorosa vida selvagem local. Brooks Camp, que conta com mais acessos e mais facilidades como alojamento e refeições quentes, situa-se nas margens do Lago Naknek, junto ao Rio Brooks, atraindo viajantes de todo o Mundo que aqui se deslocam para realizar boas pescarias, observar os ursos pardos e aprender mais acerca da história do Homem nesta região. É também daqui que partem excursões até ao Vale dos Dez Mil Fumos, lugar onde se verificou a maior erupção vulcânica do século XX.

O Brooks Camp é especialmente atraente para os ursos pardos, que se juntam no Rio Brooks para caçar salmões vermelhos, contando com plataformas de observação de vida selvagem que permitem ao visitante testemunhar a vida destes majestosos animais minimizando-se assim o potencial impacto humano sobre esta espécie. Existem muitos pontos que proporcionam este tipo de experiência ao longo de todo o parque e especialmente na região da costa do Pacífico, sendo, no entanto, as regiões onde os ursos se alimentam de ervas, moluscos bivalves e salmão que contam com maior interesse por parte destes mamíferos. Durante a Primavera e no início do Verão eles migram até aos campos abertos para se alimentarem dos dois primeiros e no final do Verão, início do Outono, costumam dedicar-se mais à caça do salmão. Entre os maiores exemplares de ursos pardos de todo o Mundo, os que habitam a Península do Alasca medem em média 2,4 metros de comprimento, podendo alcançar os três metros, e com uma altura de ombro de 1,34 metros, pesando cerca de 400 quilogramas os machos e 227 as fêmeas. O Parque Nacional e Reserva de Katmai na verdade representa um paraíso não apenas para ursos mas também para alces, lobos e outras criaturas, criando-se facilmente a ilusão de que esta região se encontra intocada pelo Homem, o que não corresponde à realidade. Com efeito, a presença humana faz-se sentir nestas paragens pelo menos desde há cerca de nove mil anos sendo evidentes as provas documentais recolhidas tanto pela arqueologia como pela etnologia.

O dia em que o Novarupta nasceu

Na manhã de 6 de Junho de 1912 uma enorme explosão enviava uma gigantesca nuvem de cinzas vulcânicas para os céus. Dava-se a erupção do século. A população de Juneau, a cerca de 1207 quilómetros do Vulcão Novarupta, que deste evento natural resultaria, ouviu o som da explosão mais de uma hora depois. Ao longo das seguintes 60 horas, a erupção enviou grandes colunas de materiais piroclásticos e de gases para a atmosfera. Quando terminou, a terra circundante estava completamente devastada e os cerca de 30 quilómetros cúbicos de materiais expelidos tinham coberto toda a região. Esta erupção foi 30 vezes mais intensa do que a de 1980 no Monte de Santa Helena (Washington, EUA) e três vezes superior à de 1991 no Monte Pinatubo (nas Filipinas), tendo sido classificada na Índice de Explosividade Vulcânica como IEV 6, tendo expelido uma quantidade de materiais superior à soma de todas as outras decorridas no Alasca. A cerca de 160 quilómetros, os habitantes de Kodiak foram os primeiros a aperceber-se da severidade da erupção. O som da explosão ter-lhes-á captado a atenção e o impacto visual de testemunhar a nuvem de cinzas a erguer-se rapidamente a uma altitude de 32 quilómetros e a aproximar-se cada vez mais deverá ter sido uma experiência absolutamente aterradora. Poucas horas após a erupção já um espesso manto de cinzas começava a cobrir a cidade continuando a verificar-se o mesmo efeito ao longo dos três dias seguintes. Os moradores foram obrigados a abrigar-se dentro de casa e alguns edifícios chegaram mesmo a colapsar em virtude do peso das cinzas nos seus telhados. Lá fora era impossível respirar caindo uma penumbra que bloqueou a luz solar em pleno dia. Animais ou pessoas que tivessem sido surpreendidos no exterior terão provavelmente morrido sufocados, cegos ou pela incapacidade de encontrar alimento ou água. Quando, a 9 de Junho, a erupção finalmente terminou a nuvem de cinzas já se tinha espalhado pelo sul do Alasca, por uma larga extensão do Canadá ocidental e por vários estados americanos. Foi, então, a vez de os ventos a conduzirem até à América do Norte e de, em 17 de Junho, alcançar o continente africano. Apesar do seu efeito, a maioria da população fora do Alasca desconhecia qual dos muitos vulcões tinha entrado em erupção, admitindo muitos que tinha sido o Monte Katami o responsável, mas estavam errados. Após a erupção a National Geographic Society começou a enviar expedições ao Alasca para avaliação do resultado do fenómeno natural e para realizar uma contagem dos vulcões existentes na Península do Alasca. Robert Griggs liderou quatro destas expedições, viajando em 1916 por terra com três outros exploradores até à área da erupção e o que encontrou estava muito além da sua imaginação: o Vale de Knife Creek estava agora árido, tornara-se plano e tinha sido preenchido por cinzas arenosas soltas que nas suas profundezas ainda se encontravam quentes. Do chão emergiam milhares de fumarolas. Griggs ficou de tal modo impressionado que baptizou o lugar como Vale dos Dez Mil Fumos. O zoologista James Hine, que o acompanhava, descreveu o cenário do seguinte modo: “Uma vez alcançado o cume do Katmai, o Vale dos Dez Mil Fumos estende-se sem fim. O meu primeiro pensamento foi que tínhamos chegado a um modelo moderno do inferno. Fiquei horrorizado e no entanto a curiosidade de ver tudo de perto tomou conta de mim. Embora tivesse a certeza que a quase todos os passos me afundaria na crosta terrestre mergulhando num abismo incandescente, continuei até me encontrar numa zona que me pareceu particularmente perigosa. Não apreciei aquilo, e no entanto gostei.”

Parque Nacional e Reserva de Katmai

Katmai foi declarado Monumento Nacional em 1918 com o intuito de preservação do laboratório vivo decorrente da cataclísmica erupção vulcânica de 1912, em particular o Vale dos Dez Mil Fumos. Com o avançar dos anos, também a protecção das comunidades de ursos pardos se tornou um imperativo e para preservar este magnífico animal e o seu habitat foram-se alargando as fronteiras à medida que os anos se foram sucedendo, culminando com a designação da área como Parque Nacional e Reserva em 1980. Hoje em dia são precisamente estes dois elementos a proteger que mais viajantes atraem àquelas paragens: os vulcões e os ursos. O Parque Nacional e Reserva de Katmai constitui um dos principais pontos mundiais de observação de ursos pardos. Estima-se que cerca de 2200 ursos o habitem e calcula-se que na Península do Alasca vivam mais exemplares desta espécie do que seres humanos. À medida que as populações de ursos têm vindo a entrar em declínio em todo o planeta, o Parque de Katmai preserva ainda um dos últimos habitats inalterados que são próprios destas espectaculares criaturas. Ali é ainda possível estudar-se esta espécie nas suas condições naturais e os visitantes podem apreciar inúmeros exemplares ao mesmo tempo que estes prosseguem no seu ciclo de vida sem qualquer perturbação exterior. As horas que um urso dedica às suas caminhadas são geralmente dominadas pela procura de alimento. Fora da época de acasalamento, os ursos aglomeram-se em regiões ricas em alimento por todo o parque. Há algumas áreas do Parque Nacional e Reserva de Katmai, como a costa do Pacífico, que por serem ricas em alimento suportam algumas das mais elevadas densidades de ursos até hoje documentadas. Outras regiões do parque menos ricas em provisões, como o Vale dos Dez Mil Fumos, recebem apenas alguns ursos em cada estação.

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