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De Moscovo a Vladivostok

Embarcamos num comboio de luxo da Golden Eagle e percorremos a linha transiberiana através da misteriosa Rússia que liga o Oriente ao Ocidente desde Moscovo aos Montes Urais através da magnífica e infindável estepe que à nossa espera permanece junto às margens do mais profundo lago do mundo

Um dos melhores modos de absorver a cultura e de conhecer a paisagem de um país é visitá-lo a bordo de um comboio e nada melhor do que fazê-lo em condições luxuosas, onde o conforto e o requinte são uma constante, como acontece nas viagens da Golden Eagle, com serviço de primeira classe e absolutamente inigualável que nos ajuda a apreciar paisagens em constante movimento proporcionando memórias absolutamente inesquecíveis. A Golden Eagle é reconhecida pelos comboios de luxo que opera já há mais de trinta anos e pela exclusividade dos serviços que oferece nos percursos que realiza em todo o mundo. O entusiasmo não poderia, portanto, ser maior quando o dia da viagem finalmente chegou.

De malas feitas, partimos rumo a Moscovo para ali descobrirmos um dos mais fascinantes percursos que nos transportam não só num enigmático e maravilhoso périplo como também pela cultura e pela história de um dos mais fascinantes territórios europeus. Chegados à capital russa e depois de alojados no coração da cidade, aproveitamos para apreciar a vista privilegiada e mais tarde desfrutarmos de um opíparo jantar onde o destaque vai indubitavelmente para a excelente selecção de vinhos internacionais. As horas desfilam rapidamente e com elas chega o merecido descanso que nos aproxima do início de uma verdadeira aventura que se iniciará no dia seguinte.

Um dia em Moscovo

Logo de manhã partimos para o Kremlin, residência oficial do presidente da federação russa, ou “fortaleza dentro da cidade”. Localizado em pleno centro da capital, situa-se nas margens do Rio Moskva, junto à Catedral de São Basílio e à Praça Vermelha, de um lado, e o Jardim de Alexandre, do outro. As suas muralhas e torres foram erguidas entre 1485 e 1495, abrangendo uma área de cerca de 175 mil metros quadrados e dentro das quais se encontram diversos palácios, museus e igrejas. A sua grandeza – espiritual, histórica e política – é absolutamente assombrosa. Uma vez lá dentro, dirigimo-nos ao Armoury Chamber para uma visita exclusiva que nos permite apreciar os tesouros dos czares. Depois de um verdadeiro mergulho na excelência das peças e na delicadeza de cada uma das obras, seguimos para uma visita à Praça Vermelha, o icónico símbolo de poderio político e militar russo, com a sua fascinante e ecléctica arquitectura. Podemos visitar aqui a magnífica Catedral de São Basílio e maravilhar-nos também com a fachada do mundialmente famoso GUM, construído ainda na época dos czares. O almoço acaba por ser desfrutado no Café Pushkin, um lendário restaurante moscovita cuja decoração nos transporta para a atmosfera do início do século XIX e onde a cozinha russa tradicional merece destaque. Seguimos depois para as maravilhosas estações do metro de Moscovo, uma visita absolutamente obrigatória dada a sua opulência, decoradas com estátuas, frescos e mosaicos sem paralelo em qualquer outro ponto do mundo. Uma vez chegados à estação ferroviária de Kazansky somos recebidos na Sala de Espera Imperial com um copo de champanhe russo e canapés, criando-se a oportunidade de conhecermos agora os outros passageiros que em breves minutos embarcarão connosco no Golden Eagle.

Kazan, a primeira paragem

O dia seguinte amanhece em Kazan, a pituresca e histórica cidade capital do Tartaristão, onde é verdadeiramente fácil testemunhar a riqueza história e cultural. Um dos pontos altos da visita a esta cidade consiste na exploração da Fortaleza do Kremlin, Património Mundial da Unesco, e um dos mais belos de toda a Rússia. Dentro das suas muralhas exploramos ainda a magnífica Mesquita de Kul-Sharif e a Catedral da Anunciação. Uma vez que Kazan representa o berço de Feodor Chaliapin, um dos mais famosos cantores de ópera russos, somos brindados com um concerto privado em sua honra, restando apenas tempo para passearmos pela principal área pedestre da cidade e absorver um pouco da sua atmosfera antes de regressarmos ao comboio.

Yekaterinburg, onde os Romanov encontraram a morte

Fundada em 1723 por Pedro, o Grande, a nossa próxima paragem, Yekaterinburg, constitui a capital dos Montes Urais, que constituem uma fronteira natural entre a Europa e a Ásia, reunindo-se nesta maravilhosa, fascinante e cosmopolita paisagem as influências culturais e arquitectónicas destas duas civilizações. A nossa viagem leva-nos precisamente ao ponto onde os Romanov, a família do Czar Nicolau II da Rússia, foram barbaramente assassinados pelos bolcheviques em 1918, no seguimento da sua prisão de 78 dias. Actualmente transformado em igreja dedicada à sua memória, este local oferece-nos uma poderosa imagem sobre a agitada Revolução Russa. Reservamos algum tempo para reflectir na incredulidade e incapacidade que Nicolau tinha de relacionar–se com o seu povo, na dificuldade de interpretar e aceitar os sinais da sua vulnerabilidade e insatisfação e do perigo causado pelo seu distanciamento, que viria obviamente a custar-lhe a vida, o fim de toda uma descendência e também de um império. Seguimos depois para o obelisco que marca a fronteira geográfica nos Urais e em honra de ambos os territórios e povos erguemos um cálice de champanhe com um pé na Europa e outro na Ásia.

Novosibirsk: modernismo e cultura

Cidade “soviética” moderna, Novosibirsk destaca-se sobretudo pelo predomínio do forte carácter artístico e científico. Localizada no coração da Rússia junto às margens do Rio Ob, exige uma visita à Praça Lenine, onde está situada a imponente Ópera. Fenómeno arquitectónico absolutamente esmagador, acolhe permanentemente duas companhias de ópera e de bailado, representando uma das maiores salas de ópera de todo o mundo. Mesmo à sua frente ergue-se uma impressionante estátua de Lenine, o icónico líder político. O dia seguinte será passado em recolhimento, a reflectir sobre os muitos lugares visitados até agora e na própria experiência que a viagem proporciona. Conversa-se com os colegas de viagem que muitas vezes mais parecem passageiros do tempo, enquanto aproveitamos para aprender alguns termos russos e para apreciar a paisagem que lá fora de desenrola ao som dos carris.

Irkustk, a Paris da Sibéria

O novo dia leva-nos até à chamada “Paris da Sibéria”. Irkutsk é uma cidade que impressiona pela grandeza arquitectónica, com as clássicas construções em madeira de decorações intricadas e que lhe conferem uma aparência única e distinta. Visitamos o Museu Volkonsky House, dedicado à memória dos aristocratas ali exilados após o fracasso da Revolta Dezembrista de 1825 e que recria a atmosfera da época. Aqui assistimos a uma recepção regada a champanhe e a um concerto privado. Em Irkutsk temos ainda a oportunidade de aprender a realizar alguns pratos tradicionais russos com um chefe local, confecionando o nosso próprio almoço, ou de visitarmos uma típica dacha russa, uma típica casa local de veraneio, de modo a podermos obter uma noção sobre como era o dia-a-dia de uma família russa.

O Lago Baikal, a Pérola da Sibéria

São poucos os destinos naturais que conseguem ultrapassar a beleza e a grandeza do Lago Baikal, um dos pontos fortes da viagem a bordo do Transiberiano. Trata-se do lago mais profundo do mundo, que sustenta cerca de vinte por cento de toda a água doce do planeta. Também conhecido como a “Pérola da Sibéria”, é morada de mais de 50 espécies de peixes. Ao longo de cerca de cinco horas serpenteamos por túneis que se abrem por trilhos erguidos sobre penhascos que se debruçam sobre ele, revelando paisagens absolutamente espectaculares. Com vista para os picos nevados, adquirimos uma melhor percepção do esforço de engenharia envolvido na concepção deste troço do percurso ainda no início do século XX. Para tornar o dia ainda mais especial, assistimos ao acoplamento de uma locomotiva da era soviética que conduzirá o Golden Eagle ao longo desta impressionante secção ferroviária. Claro que as fotografias junto à locomotiva e com vista para o lago se sucedem a qualquer oportunidade dada e os mais corajosos até aproveitam para um rápido e revigorante mergulho nas águas geladas do Baikal. A partir deste ponto, seguimos de barco até Listvyanka, um pequeno assentamento junto ao Baikal situado na base das colinas cercanas e aproveitamos para visitar o Museu do Lago Baikal e o Aquário, onde descobrimos muito mais sobre a flora e a fauna que lhe são próprias. Segue-se um delicioso churrasco preparado por chefes privados e que inclui omul fumado, um tipo de peixe branco da família do salmão, na agradável tenda de refeições nas margens do Lago Baikal e que desta forma encerra um dia magnífico.

Ulan Ude, contacto com as gentes

Ulan Ude anuncia-se já como o próximo destino. Capital da Buriácia, oferece uma espectacular e única oportunidade de apreciarmos uma herança muito própria. À medida que progredimos nesta região, rapidamente nos apercebemos dos diferentes traços das gentes que nos recebem. Na Old Believers Village, acabamos por aprofundar o contacto e também o conhecimento sobre a cultura e a história deste povo religioso que à nossa chegada se reúne em torno de cantigas tradicionais.

Mongólia, a terra de Genghis Khan

Chegados à Mongólia, é tempo de visitarmos a capital, Ulaan Baatar. Aquele que em tempos foi o centro do magnífico império de Genghis Khan é hoje um país de paisagens maravilhosas e de um povo nómada rico em cultura e em história. A Mongólia é famosa pelas suas infindáveis estepes verdes, pelo gado e pelos gers (tendas) que aqui e acolá povoam o campo conferindo-lhe prova de humanidade. Em Ulaan Baatar começamos por visitar o Mosteiro de Gandan, um dos mais importantes mosteiros budistas do país, que alberga um total de mais de quinhentos monges. O seu nome completo, Gandantegchinlen, poderá traduzir-se por algo como “o grande lugar da plena alegria”. Na Praça Chinggis, antiga Praça Sukhbaatar, é visível o monumento central a Genghis Khan, sem dúvida o mongol mais receado e reverenciado. Seguimos para fora da cidade, desta vez em direcção ao Parque Nacional de Gorkhi-Terelj, para desfrutarmos do esmagador cenário da Mongólia selvagem, com oportunidade para visitarmos um ger tradicional e de conhecermos uma família nómada ou para montarmos a cavalo, uma das características intrínsecas da vida mongol. O Museu Nacional, de regresso à cidade, proporciona-nos um conhecimento mais aprofundado da intrigante história deste país. Restará apenas tempo para visitarmos o Bodg Khan Winter Palace Museum, construído entre 1893 e 1903, que foi em tempos a residência de inverno de Bodg Khan, o último imperador mongol. Tivemos sorte e restou-nos ainda tempo para passearmos livremente pela cidade sentindo a atmosfera mongol e para assistirmos a uma performance de canto tradicional mongol acompanhado por fantásticos contorcionistas. Os dois dias seguintes seriam bastante mais calmos, preenchidos apenas pela observação da paisagem maravilhosa do Médio Oriente russo e pela oportunidade de aprendermos alguns termos da língua local. Enquanto o Golden Eagle progredia ao longo dos rios Shilka e Amur, junto à fronteira chinesa, desfrutámos dos remotos e dramáticos cenários russos em direcção da Vladivostok. O terceiro dia de descanso seria passado a norte de Seoul, Darwin e de Osaka e alcançando o ponto mais oriental da viagem em Khabarovsk, onde atravessámos o Rio Amur. A noite destinou-se à realização do último jantar a bordo do Golden Eagle enquanto nos dirigíamos para o destino final desta inesquecível viagem.

Vladivostok

Vladivostok consiste num porto militar localizado nas margens ocidentais do Mar do Japão e onde a Rússia detém uma enorme frota. Devido à sua importância militar, a cidade esteve encerrada a estrangeiros entre 1930 e 1992. Esta capital cujo nome pode ser traduzido como “Governadora do Oriente” oferece a interessante oportunidade de explorar as suas principais atracções militares, incluindo uma visita a um submarino da Segunda Guerra Mudial muitíssimo bem preservado. Na cidade visitámos ainda a ponte suspensa sobre o a Baía de Zoloti Rog, uma das maiores do mundo e que foi inaugurada em 2012. A noite trouxe as inevitáveis despedidas realizadas à mesa de um sumptuoso jantar e entre brindes com excelentes vinhos internacionais. Chegaria em breve o tempo de regressarmos ao hotel de cinco estrelas e de nos prepararmos para o já desejado mas sempre doloroso regresso a casa que se anunciava para o dia seguinte. Para trás ficariam quinze dias de autêntico deslumbre e descoberta, de aventura e também de verdadeira alegria.

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