0
Shares
Pinterest Google+

Nas águas do Índico, a cerca de 240 quilómetros de Mombaça, há uma ilha que preserva a cultura swahili como nenhum outro lugar. Fundada no século XII, Lamu reúne toda uma série de características que fazem da ilha homónima um destino apaixonante

Ainda antes do nascimento de Maomé, os povos de vários países e regiões migraram para a ilha de Lamu, desenvolvendo-se ali um importante centro de trocas comerciais e em cuja direcção rumavam navegadores e comerciantes da Península Arábica, da China, da Índia e do sudeste asiático. A miscigenação destes povos com a população indígena daria origem a classes sociais distintas e a uma estrutura social diversa nesta ilha africana. A língua swahili, por exemplo, conhece vários dialectos ao longo de Lamu, sendo que a sua cultura resulta de uma mistura dos modos e tradições europeus, africanos, árabes e asiáticos.

Um lugar ainda único no mundo

Ao chegar a Lamu viaja-se literalmente no tempo para um misto de culturas e religiões onde o islão é claramente predominante, o que faz com que a cidade muçulmana apresente traços fortemente conservadores mas já com uma velha tradição de paz e de boa vontade. Património Mundial da UNESCO, Lamu não conhece o tráfego automóvel, já que as suas ruas são tão estreitas que se torna impossível percorrê-las com semelhante meio de transporte. Os burros constituem, pois, o único meio de transporte deste destino, tornando-se os seus proprietários alguns dos residentes mais afortunados desta tranquila cidade em virtude dos valores que cobram pelo seu aluguer. Representando uma das mais antigas cidades da África Ocidental, Lamu encontra-se protegida por uma política de preservação da sua arquitectura ímpar que se inspira no caldeirão cultural que está na génese do seu nascimento, sendo absolutamente proibido demolir edifícios ou expandir qualquer estrada. Assim, além dos burros, os encantadores dhows (embarcações tradicionais) são o principal modo de deslocação entre as mais de 35 ilhas do arquipélago. Esta realidade acaba por ser bem-vinda por quem ali chega, já que proporciona uma desaceleração relativamente aos padrões e tipos de vida próprios do mundo ocidental e que obriga ao passeio a pé. Surgem, então, admiráveis oportunidades de testemunhar o quotidiano local e a arte que está presente em cada esquina e da qual são assinaláveis exemplos as famosas portas trabalhadas em madeira que contrastam com as cores garridas das vestes das gentes que por ali passam.

Viver Lamu

Com temperaturas que variam entre os 23 e os 33 graus centígrados, Lamu goza de um clima mais quente entre Dezembro e Abril e de brisas mais frescas entre Maio e Julho, mantendo-se temperada ao longo do resto dos meses. O seu porto foi fundado pelos mercadores árabes calcula-se que no século XIV, tendo a ilha prosperado à custa do mercado de escravos. Em 1890 passou a ser governada por Zanzibar e assim permaneceu até o Quénia alcançar a independência, em 1963. Seriam a arquitectura e a cultura tradicional, juntamente com as praias paradisíacas, que nos anos 70 fariam com que o turismo despertasse o seu interesse pela ilha. Culturalmente rica e de deslumbrante beleza, Lamu entra agora numa nova fase da sua existência, adquirindo uma cada vez maior popularidade como região turística para quem visita a África Ocidental, com voos directos a partir de Nairobi. A visita ao Museu de Lamu será incontornável, tal como à praia de Shela, que dispõe de um areal branco com cerca de 14 quilómetros de extensão; ao santuário dos burros, criado pelo International Donkey Protection Trust of Sidmouth, no Reino Unido, com vista a melhorar as condições de vida destes animais que se revelam tão essenciais ao dia-a-dia da ilha. O Forte de Lamu representa também um ponto de interesse, tendo sido construído pelo sultão de Paté entre 1810 e 1823 e utilizado entre 1910 e 1984 como prisão. Para apreciar a construção dos românticos dhows, nada melhor do que visitar a aldeia piscatória de Matondoni, no noroeste da ilha, e para viver um pouco do espírito local e sorver a verdadeira atmosfera de Lamu, há que visitar o caótico mercado bem cedo, logo de manhã, e assistir ao regateio de peixe fresco como o atum, percorrer becos e ruelas onde se passeiam gatos e cabras e testemunhar ainda o comércio de frutas e vegetais. A cidade é percorrida por uma muralha de água e é das águas que se torna fascinante avistar os edifícios que, entre as areias e a vegetação, espreitam as embarcações que vão passando. Alguns exemplificam, orgulhosos, o estilo acastelado da arquitectura arábica ou brilham nas típicas varandas swahili que convidam à pausa e ao saboreio de cada momento como único. Aqui, os vento s cantam uma brisa quente, as multicolores buganvílias perfumam as ruas e o murmúrio das águas beija a costa a um ritmo pausado fazendo lembrar o essencial da vida.

Previous post

JÁ NAS BANCAS!

Next post

Cairo, às portas do Oriente