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Os madeirenses referem-se-lhe muitas vezes como a Ilha Dourada, mas esquecem o magnífico, cristalino, profundo e inebriante azul das suas águas e que é isso mesmo – demasiado rico para não ser referido no nome desta ilha atlântica que soube resistir a massificações e à perda de uma tipicidade que lhe é tão própria. Falamos de Porto Santo

Destino ideal de férias em segurança e reduto de tranquilidade, a Ilha de Porto Santo, no arquipélago da Madeira, é um verdadeiro esconderijo natural onde o tempo corre ainda devagar, como se bem quer em tempo de descontracção… Com 42,48 Km2 de área total, Porto Santo é por vezes apelidada pelos próprios habitantes como a Ilha Dourada, dada a tonalidade da areia da praia que se estende ao longo de nove quilómetros. Em bom rigor dever-se-ia chamar a Ilha Dourada e Azul ou Ouro sobre Azul, tal é a imensidão índigo das mornas águas que a cercam. Mas viajemos no tempo e comecemos pelo início. Corria o ano de 1418 e no trono estava o primeiro rei da segunda dinastia, D. João I, Mestre de Avis. Em seu nome e NO da coroa portuguesa, os navegadores João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira haviam levando âncoras com a intenção de explorar a costa ocidental de África quando, empurrados pelos ventos, se veem desviados da sua rota e acabam por descobrir a Ilha de Porto Santo, que lhes providenciou um porto seguro e deste modo herdou o próprio nome. Localizada em pleno Oceano Atlântico, estava pois descoberta esta ilha de 11 Km de comprimento e seis de largura, banhada por águas azuis turquesa e onde o clima é moderado ao longo de todos os 365 dias do ano e o mar varia a sua temperatura entre os 17 e os 24 graus.

A Ilha da Madeira só no ano seguinte seria “achada”. De todo o arquipélago, a Ilha de Porto Santo foi a primeira a formar-se, há cerca de 19 milhões de anos e ainda durante o Mioceno, emergindo 11 milhões de anos mais tarde, portanto há cerca de oito milhões de anos. De todas as erupções e erosões resultou um verdadeiro tesouro geológico e uma variedade de locais de beleza natural absolutamente estonteante. 1446 marcaria o ano em que o Infante Dom Henrique nomearia Bartolomeu Perestrelo para governador da ilha. Uma das suas filhas viria casar com Cristóvão Colombo, que ali viveu enquanto preparava a viagem de descoberta das américas. A sua casa localizava-se em Vila Baleira e ainda hoje podemos visitá-la para apreciarmos este espaço do século XV onde encontramos os seus retratos e mapas com várias rotas por si percorridas. Transformada num museu português, com áreas dedicadas à posição estratégica que Porto Santo assumiu aquando dos descobrimentos portugueses, explora também a relação que o navegador manteve com o arquipélago da Madeira e ainda alude ao afundamento do Sloot ter Hooge, o galeão da Companhia das Índias Holandesas que encontrou os últimos momentos junto à costa de Porto Santo.

Mais tarde, no século XVII, e como consequência dos diversos ataques de piratas à ilha, Filipe III de Espanha investiu na construção de uma fortificação que protegesse as gentes da ilha e contribuísse assim para o seu repovoamento. Ficou na história a memória da invasão de 1619, quando grande parte da população local foi morta e a que restou foi escravizada, tendo apenas resistido 18 homens e sete mulheres…

Contornos únicos num paraíso atlântico

As condições naturais de Porto Santo diferem muito das que são próprias da ilha da Madeira, com um solo arenoso e pobre em nutrientes, muito baixa pluviosidade, terreno extremamente plano e uma praia de nove quilómetros com uma grande quantidade de palmeiras. O seu relevo é essencialmente baixo, com algumas excepções, como acontece com o Pico Castelo, com 437 metros de altitude, e onde resiste ainda a ruína de uma fortaleza do século XVI, ilustrando a necessária defesa das populações das incursões piratas. Lá em cima, um miradouro com vista panorâmica faz valer a escalada por si mesma, já que a paisagem é absolutamente maravilhosa. Num território com estas características, não será de admirar que a principal indústria da ilha nos remeta para o turismo. Grande parte dos hotéis e resorts terão sido construídos durante o século XX, mas não nos esqueçamos que o turismo aqui praticado é sazonal e nada se assemelha com o turismo desenfreado próprio de outras regiões portuguesas. O potencial da ilha foi reconhecido por muitos, como por exemplo Severiano Ballesteros, campeão de golfe, que desenhou um campo para a prática da modalidade na ilha. O golfe poderá ser praticado em Porto Santo no Complexo Porto Santo Golfe, que conta também com oito cortes de ténis e ainda um centro equestre (Picadeiro Ana Ferreira). Com o nome do referido picadeiro, o Pico de Ana Ferreira testemunha um tipo de vulcanologia absolutamente impressionante dada a riqueza de colunas prismáticas e das quais são exemplo as traves de madeira que suportam o peso da colina. Passear pela ilha desfrutando da beleza natural é, sem dúvida, o melhor a fazer em Porto Santo, que não vale apenas pela magnífica praia. Façamos, pois, o périplo pelos vários miradouros. Destes, destacamos o Miradouro da Portela, com um maravilhoso panorama sobre o areal e o porto da ilha. Ali perto, as silhuetas dos moinhos de vento da Serra de Fora chamam a nossa atenção, recordando a tradição e o óbvio impacto na economia da ilha. O primeiro de todos foi erguido em 1794 e a segunda geração dos mesmos chegaria quase um século mais tarde, em 1870. Processavam, então, vários cereais, originando finas farinhas, como a de trigo, que juntamente com água morna, fermento e sal dá origem ao bolo do caco, especialidade muito apreciada tanto na própria ilha como no estrangeiro. O seu nome seria herdado do modo de cozedura. Depois de amassada a massa, a mesma era colocada sobre uma pedra já aquecida, cozendo-se ali o bolo do caco. A pedra não resistia a algumas dezenas de cozeduras e era frequente quebrar-se em cacos….

Recomenda-se ainda a visita ao Miradouro das Flores, que detém vista sobre a Madeira e as Desertas, e a visita ao Pico do Facho, ponto mais elevado da ilha (517 metros de altitude). Para quem viaja com crianças, será imperdível dar um salto à Quinta das Palmeiras e apreciar o mini-zoo e o jardim botânico, fazer um piquenique nos Morenos, a norte do Cabeço das Flores, impressionante pela irregularidade das suas falésias e onde uma mata de pinheiros, oliveiras e dragoeiros proporciona a sombra ideal para este tipo de momentos que ficarão perfeitos se forem seguidos de um mergulho nas encantadoras águas da enseada do Zimbralinho.

Vila Baleira

A capital de Porto Santo, Vila Baleira, bastante pequena, conta diversos pontos de interesse. Nasce em torno da praça principal, onde se ergue o Largo do Pelourinho, e os Jardins do Infante. Aqui, a profusão de palmeiras e buganvílias convidam à descontração e ao desacelerar do passo do mais inquieto visitante. Não parta sem provar alguns dos mais famosos pratos locais, como a espetada de vaca grelhada e o pão com batata-doce e manteiga de alho. A típica sandes de polvo e os pratos de peixe-espada preto ou de gaiado, bem regados com uma cerveja Coral ou com a tradicional poncha, são absolutamente magníficos. Termine com um gelado do Lambecas, igualmente famoso. Negócio com quase meio século, os gelados Lambecas são populares em toda a ilha e além, fazendo rumar a si conhecedores e curiosos, que não partem para sítio algum antes de poderem dizer “vai uma lambeca?” Continuando pelas ruas de Vila Baleira, aproveite para apreciar os magníficos painéis de azulejos da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, que nos remetem ao século XVII. Passeie até à Ponta da Calheta e deixe-se seduzir pela miríade de actividades que a ilha lhe propõe. Desde passeios de barco à pesca desportiva, ao mergulho, à prática do windsurf, do kitesurf, de esqui aquático, parapente ou BTT, são múltiplas as oportunidades. Aproveite para desfrutar da praia e das propriedades curativas dos areais e das águas ricos em iodo, em cálcio e em magnésio. A Ilha de Porto Santo é, assim, um verdadeiro paraíso natural, conservando intactas as suas formações naturais e a genuinidade do seu carácter, muito graças ao facto de os confortos modernos terem tardado a chegar ali. Até 1954 a ilha recorria a candeeiros a petróleo e só neste ano é que conheceu a rede de distribuição de água potável. Telefones não houve até 1959, ano que marcou a chegada do primeiro avião. A ilha despertou inclusivamente o interesse de Charles Darwin, que ao longo da vida estudou (através da correspondência que manteve com outros naturalistas) o coelho de Porto Santo, espécie que Bartolomeu Perestrelo ali teria introduzido 400 anos antes. Há quem diga que todos os coelhos de Porto Santo descendem de uma única fêmea que o seu primeiro capitão donatário terá transportado para aquelas paragens. Por todos os motivos já referidos e outros tantos por revelar, a Ilha de Porto Santo é, sem dúvida, um exemplo incontestável de proximidade com a Natureza e com uma saudável passagem do tempo que se marca a ritmo lento. O prazer de nadar nas suas águas tão cristalinas que chegam a permitir 25 metros de visibilidade fica para sempre entranhado na alma, no corpo e no espírito.

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