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Além de praias absolutamente maravilhosas, Bali deslumbra pela sua simplicidade e pelo modo como mantém a harmonia espiritual com a Natureza e com o próximo. Localizada no Oceano Índico, integra o Triângulo de Coral, mas brilha sobretudo pelas suas gentes delicadas e generosas

Ilha e província indonésia, Bali integra as famosas Nusa Tenggara, as “ilhas de Sudeste” localizadas a sul do arquipélago malaio. São estas as Ilhas de Sonda, que integram as ilhas de Flores, Komodo e Lombok, entre muitas outras. Com Java a Oeste e Lombok a Oriente, Bali é morada da maior percentagem de hindus residentes na Indonésia e integra o espectacular Triângulo de Coral, uma área de águas tropicais onde se contam cerca de 500 espécies de corais, centro global da biodiversidade marinha que também lhe valeu o apelido de Amazónia dos mares. Não é, contudo, apenas a riqueza das águas em que se encontra inserida que faz de Bali um verdadeiro paraíso. Na região central encontramos montanhas com mais de dois mil metros de altitude, entre as quais se ergue o Monte Agung, a chamada “montanha mãe”, com 3142 metros e que resulta de um vulcão activo considerado como o local onde, em todo o mundo, há maior probabilidade de ocorrência de uma erupção massiva nos próximos cem anos. Resultado da sua origem vulcânica, a fertilidade das suas terras é absolutamente excepcional, consequência também providenciada pela elevada precipitação causada pela cadeia montanhosa e que estará na origem de elaborados sistemas de irrigação como subak, um sistema de irrigação tradicional ecologicamente sustentável para campos alagados desenvolvido há mais de mil anos e que em larga medida contribuiu para que a UNESCO considerasse a paisagem cultural de Bali como Património Mundial.

O berço do mais caro café do mundo

A norte, nas encostas das montanhas mais íngremes que descem até ao mar estão situadas as plantações de café. Além de produzir os cafés Robusta e Arábico, é de Bali que resulta a produção do mais caro e mais famoso café do mundo, o Café Luwak. O kopi (café em indonésio) luwak (civeta na mesma língua) resulta de um modo de produção único. Trata-se de um café feito com grãos de café extraídos das fezes da civeta, um pequeno mamífero originário do sul e do sudeste asiático. A civeta digere apenas a polpa dos grãos e durante este processo as bactérias e enzimas que lhe são únicas agem sobre os grãos, tornando-os assim um produto muito apreciado. O kopi luwak resulta, pois, de grãos extraídos das fezes destes pequenos mamíferos de focinho pontiagudo que habitam as palmeiras da Indonésia. Com um sabor semelhante a uma mistura de chocolate e sumo de uva, este café não é, porém, obtido de um modo totalmente isento, existindo registos que narram que estes animais são mantidos em pequenas jaulas. Numa reportagem da responsabilidade da BBC realizada na Ilha de Sumatra (https://www.bbc.com/news/uk-england-london-24034029) torna-se evidente que os animais são mantidos em cativeiro e não em condições naturais, como muitos produtores advogam. Em Portugal, 200 gramas deste tipo de café poderão facilmente chegar a valores que rondam os 200 euros.

Para além das praias

O Parque Nacional de Bali Barat, principal área protegida da ilha, localiza-se na extremidade ocidental e cobre uma área de cerca de 190 quilómetros quadrados, dos quais 158 são terra e o restante mar, representando aproximadamente três por cento do território total de Bali, onde se encontram 160 espécies de animais e onde nos anos 30 se registou o último avistamento do entretanto extinto tigre de Bali, descrito como um dos mais pequenos tigres das Ilhas de Sonda. De um passado muito mais remoto mantém-se a noção de que, aquando da glaciação quaternária, Bali mantinha ligação a Java, a Sumatra e à Ásia continental, contando nesta altura com fauna asiática. A profundidade do estreito de Lombok encarregar-se-ia mais tarde de providenciar o isolamento das pequenas Ilhas de Sonda. A sul de Bali, as praias contam com areias brancas e a norte e a oeste a areia é negra, sendo as primeiras as mais procuradas pelo turismo, cuja estação alta ocorre nos meses de Julho e Agosto e também durante a Páscoa e o Natal. Além do cenário maravilhoso, da típica descontracção local e das praias absolutamente esmagadoras, o turismo surge também em busca da cultura balinesa, conhecida pela diversidade e sofisticação das suas formas de arte. Aqui merece destaque a pintura, a escultura, a talha em madeira, o artesanato e as artes cénicas. Também a música e as famosas danças balinesas preenchem o imaginário de quem chega de fora e a realidade indígena quotidiana.

Um paraíso com um passado conturbado

Povoada desde cerca de 2000 a.C, Bali manteve um estreito relacionamento com os povos oriundos do arquipélago indonésio, da Malásia, da Oceania e das Filipinas e a sua cultura foi largamente influenciada pelas congéneres indiana, chinesa e hindu. Foi independente até 1906, data da chegada dos holandeses que viriam a subjugar este povo. Foi, no entanto, através de navegadores portugueses que Bali teve o seu primeiro contacto com a Europa, em 1512, quando António de Abreu e Francisco Serrão avistaram a costa norte. Oitenta e cinco anos mais tarde, Cornelis de Houtman chegaria à ilha e o governo holandês alargaria o controlo de todo o arquipélago indonésio durante a segunda metade do século XIX. O domínio holandês chegaria tarde e nunca seria ali tão fortemente estabelecido como noutras regiões da Indonésia e das quais Java e as Ilhas Molucas são um exemplo. O território balinês só viria a alcançar a independência em 1949, quando os Países Baixos finalmente reconheceram a independência da Indonésia. As diferenças sociais provocariam o aumento de conflitos entre os apoiantes do sistema tradicional de castas e aqueles que se lhe opunham, confronto protagonizado pelo Partido Comunista da Indonésia, o PKI, e o Partido Nacional Indonésio (PNI) em termos políticos, com as reformas agrárias propostas pelo PKI a fomentar o crescendo das tensões já existentes. O final do ano de 1965 seria o palco de violentos confrontos entre as forças opostas, iniciando-se na tentativa frustrada do PKI em realizar um golpe de estado, com o exército a assumir um poder dominante e a promover uma purga política anti-comunista que causaria a morte a cerca de 500 mil pessoas em toda a Indonésia e das quais 80 mil residiam em Bali, cerca da 5% de população da ilha. Em 1966 Suharto instalava um novo regime intitulado “Nova Ordem”, restabelecendo as relações com os países do ocidente e reavivando o antigo paraíso de Bali que inevitavelmente se traduziria num considerável crescimento do turismo naquela região.

Com a capital em Dempassar, uma cidade em contínuo crescimento desde há cinco décadas, encontra-se aqui talvez o mais agitado ponto de Bali, mas que em Renon esconde as suas características mais tranquilas. Encontram-se ali casas locais com relvados imaculados e ruas profusas em arvoredo, num contraste com a metrópole urbana. A riqueza da diversidade cultural de Bali está presente no dia-a-dia da ilha, desde a típica oferta de pétalas de flores nos mais diversos locais, às procissões que encerram o trânsito e nas quais as gentes

participam devidamente engalanadas. Em Bali quase tudo tem um significado espiritual, com o centro religioso localizado em Gunung Agun, o pico mais alto da ilha. Uma das razões que tornam Bali mundialmente famosa reside nas suas praias, onde é possível fazer surf e mergulho e abundam os resorts de toda a espécie mas, são as suas gentes que fazem desta uma ilha paradisíaca que uma vez visitada não mais se esquece. Um povo generoso, genuíno e caloroso, goza também de um apurado sentido de humor. Não é raro que, ao cruzarem-se com um turista careca, os locais exclamem bung ujan, que se traduz por “hoje não chove” – já que consideram uma careca como algo semelhante a um dia de céu sem nuvens… O entretenimento é também um ponto forte da ilha, havendo sempre uma oferta adequada ao mais exigente gosto, desde lojas de designers, resorts de perder a cabeça, cozinha soberba e uma vida nocturna muitíssimo animada nesta terra onde templos milenares vivem em harmonia com a Natureza e a paz própria de um recanto verdadeiramente idílico onde tudo é equilíbrio e impera a oração, o culto e a oferenda. Ainda hoje podemos testemunhar o legado da filosofia de vida de Tri Hita Karana, originária de Bali e que terá moldado as mentalidades até aos nossos dias e que tem como três pilares de bem-estar e de prosperidade a harmonia com deus, a harmonia com o outro e a harmonia com a Natureza e com aquilo que nos cerca – uma noção a reter e a praticar.

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