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Instalados num dos mais luxuosos comboios do mundo, exploramos terras deslumbrantes com história antiga e que ainda hoje marcam o imaginário sobre a cultura e tradição desta região

A bordo do Golden Eagle, percorremos uma fascinante manta de retalhos de países unidos por uma história comum de sovietização, mas com uma identidade marcadamente independente. Das magníficas mesquitas e movimentados bazares do Uzbequistão e do Turquemenistão à verdejante planície de cortar a respiração e às etéreas e tranquilas paisagens do Cazaquistão, esta incrível aventura de oito dias constituiu a base de uma das melhores viagens de comboio do mundo.

Ashgabat, a cidade que o amor construiu

É precisamente este o significado do seu nome. O primeiro dia de viagem inicia-se no aeroporto de Ashgabat, a capital do Turquemenistão e também conhecida como a Las Vegas do Karakum.

Situada entre o deserto do Karakum e a cadeia montanhosa de Kopet Dag, Ashgabat é uma cidade relativamente moderna, construída sobre as ruínas da cidade de Konjikala, na Rota da Seda (e onde já no século II se produzia vinho), e da cidade soviética construída após o devastador terramoto de 1948.

As extravagantes fontes da cidade, as cúpulas douradas e os imponentes edifícios modernos parecem estranhamente incongruentes neste cenário desértico. Os pontos altos da nossa visita incluem uma ida ao Museu Nacional e à Mesquita Kipchak.

À chegada, embarcamos no Golden Eagle, e uma vez instalados nos nossos camarotes, o almoço será servido nas carruagens restaurante. A tarde será preenchida a explorar Ashgabat, com destaques da visita panorâmica à cidade à ida ao Museu Nacional e ao Palácio do Casamento.

De Ashgabat à Porta do Inferno…

Ao amanhecer arrancamos para um novo passeio no Turquemenistão que inclui uma visita à vizinha Nisa, uma antiga povoação dos partas declarada Património Mundial pela UNESCO em 2007.

À hora do almoço, o Golden Eagle parte de Ashgabat e ao anoitecer faz uma paragem programada em Ichoguz. Deixamos o comboio e fazemos uma curta viagem até à famosa cratera de Darvaza que, especialmente à noite, proporciona uma visão absolutamente espetacular. Localizada no meio do Deserto de Karakum, numa região rica em gás natural, a cratera de 70 metros de largura é conhecida pelos habitantes locais como a “Porta do Inferno”, ardendo há já mais de 40 anos. A experiência é verdadeiramente única e para sempre inesquecível.

Khiva, Património Mundial

Ao terceiro dia, o comboio ruma já em direção a Urgench, de onde fazemos o transfer para a antiga cidade de Khiva, fundada há 2500 anos e que uma lenda narra ter sido baptizada por Sem, um dos filhos de Noé. Representando um dos mais importantes entrepostos comerciais da Rota da Seda e hoje Património da Humanidade, Khiva está localizada no cruzamento das rotas entre a Mongólia, a Rússia, a China e a Pérsia. Proporciona uma perspectiva verdadeiramente magnífica, erguendo-se do deserto para revelar uma impressionante riqueza arquitectónica. Recuando no tempo, descobrimos as suas impressionantes mesquitas, os bazares e os minaretes que as antigas muralhas ainda guardam.

Bukhara, a cidade do conhecimento

A cidade de Bukhara, a quinta maior do Uzbequistão e um antigo centro de conhecimento, ciência e estudo, é absolutamente extraordinária. Tal como em Khiva, a UNESCO promoveu a renovação de grande parte desta cidade aquando do seu 2500 aniversário, em 1999.

O ponto alto deste maravilhoso passeio é a visita a Arca, uma residência fortificada dos emires de Bukhara, os líderes despóticos e impiedosos que governaram até à era soviética. A esmagadora Praça Poi-Kalyan, onde se encontra a icónica Mesquita Kalyan, uma relíquia viva do design islâmico tradicional, é outro ponto de visita muitíssimo marcante na qual o passeio pelas grandes salas maksura da mesquita, pelas galerias com cúpulas de pilares e pelos nichos profundamente recuados nos transporta para uma era remota.

A exploração das movimentadas Cúpulas Comerciais de Bukhara e a reunião na Praça Lyabi-Hauz, um vibrante centro social envolto por uma piscina e abraçado pela suave sombra das amoreiras e dos salões de chá locais, proporcionam o profundo mergulho no animado pulsar da cidade. À noite desfruta-se de um churrasco na plataforma da estação antes da partida do comboio – uma despedida única de uma cidade incrivelmente rica.

Samarcanda, antigo enclave entre o mundo turcomano e o mundo persa

Mais do que qualquer outra cidade, a simples menção de Samarcanda evoca imediatamente o imaginário da Rota da Seda. Fundada no século VI a.C., e uma das cidades mais antigas continuamente habitadas da Ásia Central, Samarcanda destaca-se pela deslumbrante arquitetura que evoca o seu antigo estatuto de uma das cidades mais importantes da Ásia, algo particularmente observável, dados os vestígios arquitectónicos dos séculos XIV a XVII, quando floresceu como a lendária capital do império mongol de Timur e dos seus sucessores.

Visitamos alguns dos locais mais significativos, como a Praça Registan, a elegante e requintada Mesquita Bibi Khanum, de proporções magníficas, e o observatório Ulag Beg, um dos primeiros observatórios astronómicos islâmicos, construído em 1428.

As noites de Samarcanda são inesquecíveis, deixando uma marca indelével na memória de quem as contempla. Quando o sol se põe e a escuridão desce até esta antiga cidade, caminhamos até à iluminada Praça Registan, onde se desenrola um extraordinário espetáculo. A partir de privilegiados lugares na primeira fila, somos brindados com um deslumbrante espetáculo de luzes que tece a rica tapeçaria da história e do significado de Samarcanda.

Tashkent. A cidade de pedra

Alcançamos a capital do Uzbequistão ao sexto dia de viagem, aproveitando para passarmos algum tempo em visita nesta moderna cidade de estilo soviético reconstruída após o devastador terramoto de 1966 e cuja etimologia nos faz saber que em tempos foi conhecida por “cidade de pedra”. Na sua parte mais antiga, encanta pelas casas tradicionais e os edifícios religiosos que se alinham nas ruas estreitas. Visitamos uma pequena biblioteca e prosseguimos para uma visita ao Museu Ferroviário e ao Museu de Artes Aplicadas.

A noite inicia-se com um jantar de despedida a bordo do Golden Eagle, à medida que se avança pela noite fora rumo ao destino final desta viagem, Almaty.

Almaty

O dia amanhece com a chegada ao destino final desta Rota da Seda cumprida a bordo do luxuoso Golden Eagle. Almaty, a maior cidade do Cazaquistão, foi originalmente fundada por cossacos em 1854. Um breve périplo por este ponto que integra a Rede de Cidades Criativas da UNESCO na área da música desde 2017 incluirá uma visita ao Parque Panfilov, situado no seu coração, e onde se encontra a Catedral Zenkov, uma igreja ortodoxa russa do século XIX realizada inteiramente em madeira. A despedida de uma rota que percorre pontos da Ásia de valor verdadeiramente incalculável cumpre-se finalmente a bordo e também numa despedida de um dos melhores comboios do mundo e ao qual se regressa sempre.

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