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De acordo com dados recentes, a Montanha de Machu Picchu terá dado o nome à cidadela inca que desde revelada ao mundo não mais parou de nos deslumbrar mas, na verdade, no passado remoto da civilização inca ela chamava-se Huayana Picchu. Fomos visitá-la e para esse efeito embarcámos no célebre comboio da Belmond, o Hiram Bingham

Fotos: Belmond Hiram Bingham

A cerca de 2400 metros de altitude e localizada no vale do Rio Urubamba, no Peru, Machu Picchu inclui a lista do Património Mundial classificado pela UNESCO. Ao contrário do que se possa imaginar, a sua (re)descoberta não foi obra de um experimentado arqueólogo mas do quase acidental explorador Hiram Bingham, um professor norte-americano que liderou uma expedição da Universidade de Yale e da National Geographic Society revelando a cidadela inca ao mundo em 24 de Julho e 1911. O antropólogo e historiador ficaria para sempre na história, baptizando-a como “a Cidade Perdida dos Incas”. Ao alcançá-la pela primeira vez, encontrou-a coberta por um manto de vegetação tropical e em estado de abandono. Deslumbrado com o que os seus olhos testemunhavam anotou no seu diário: “Acreditará alguém no que encontrei?”.

Escondida do mundo durante 400 anos

Se houve quem não acreditasse, rapidamente terá mudado de ideias já que desde então Machu Picchu passou a pertencer ao grupo de destinos fascinantes que o mundo não mais ignorou, constituindo actualmente um dos lugares mais visitados do Peru. Esta construção mandada erguer por Pachacuti por volta de 1420 representa um dos mais importantes símbolos do império inca e a sua descoberta uma das mais relevantes e espectaculares em toda a história. Machu Picchu significa “Montanha Antiga”. O nome terá sido adoptado para denominar o sítio arqueológico havendo recentes descobertas que afirmam que o termo original seria Huayna Picchu ou mesmo apenas Picchu. De acordo com os estudiosos, foi construída para servir como cidadela destinada à aristocracia de Cusco, a capital do império inca. Invisível a quem não conhecesse a sua localização, permaneceu intacta à invasão espanhola. A sua construção é ainda um mistério, dado que os incas não conheciam a roda e que as toneladas de pedras que a constituem terão obrigatoriamente sido transportadas montanha acima mas este não é, contudo, o único mistério que a cidadela guarda. Não se sabe ao certo porque terá sido abandonada e as lendas que circundam esta questão são muitas, entre elas a ocorrência de uma epidemia ou até a falta de água. Talvez a explicação mais provável seja a de que os seus habitantes tenham partido em auxílio da capital Cusco aquando do cerco espanhol, desaparecendo assim do mapa durante cerca de 400 anos.

A bordo do encantador e luxuoso Hiram Bingham

Seria Hiram Bingham quem devolveria o esplendor de Machu Picchu ao mundo. E hoje, em sua homenagem, há um comboio cujo percurso foi lançado em 2003 para conduzir os seus passageiros numa luxuosa viagem pelos Andes. Baptizado com o mesmo nome, o comboio Hiram Bigham celebra o entusiasmo dos primeiros exploradores aliando esta experiência à elegância num ambiente absolutamente deslumbrante e muito próprio da marca proprietária, a Belmond. O comboio de luxo é constituído apenas por duas carruagens com capacidade para 84 pessoas, um restaurante, um bar e uma carruagem de observação cumprindo um percurso entre Cusco e Machu Picchu, a rota mágica dos Andes. Decoradas ao estilo dos anos vinte do século passado e onde se destacam as madeiras polidas e os latões, as carruagens Pullman do Hiram Bingham proporcionam uma experiência inesquecível de incalculável beleza e luxo. É a partir delas que, num percurso absolutamente maravilhoso, se poderá assistir ao desfilar das grandes montanhas e apreciar as águas do Rio Urubamba, alcançando mais tarde a povoação de Águas Calientes, já perto de Machu Picchu. O percurso é simples e relativamente rápido, valendo a experiência pela qualidade cénica da Natureza circundante e pelo serviço disponibilizado a bordo à medida que se atravessa o Vale Sagrado. Até 30 de Junho, o Hiram Bingham parte da Estação de Poroy, em Cusco, todas as terças, quartas e quintas-feiras logo por volta das nove horas da manhã e serve um maravilhoso brunch a bordo. Cerca de três horas e meia mais tarde, chega-se, então, a Águas Calientes, também conhecida como pueblo de Machu Picchu, que se situa no sopé da montanha.

Águas termais em plena montanha

A cerca de apenas seis quilómetros a pé do sítio histórico, Águas Calientes ficou assim baptizada em virtude das piscinas termais ali localizadas e actualmente reconstruídas após uma cheia que as arrasou por completo. Acredita-se que a composição química destas águas lhes confere propriedades curativas e relaxantes, sendo muito populares entre os turistas que sobem a Machu Picchu, uns porque buscam a melhoria do metabolismo e uma ajuda na digestão, a libertação de toxinas, o relaxamento e a nivelação da pressão arterial; outros porque procuram o aumento da oxigenação da pele e a complementaridade de tratamentos médicos e de terapias físicas, mas uma coisa parece certa: todos desfrutam da esplendorosa experiência de mergulhar nestas águas termais em plena montanha. Mas voltemos ao percurso: a partir de Águas Calientes iniciamos a subida até ao topo da montanha através de uma estrada bastante sinuosa durante cerca de 25 minutos e percorremos então Machu Picchu, uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno.

Património Cultural e Natural da UNESCO

O Santuário histórico e natural de Machu Picchu constitui uma área natural e cultural inscrita na Lista do Património Cultural e Natural da UNESCO, compreendendo uma extensão de 37 hectares e representando esta uma das que conta com maior biodiversidade em todo o Peru, não esquecendo, obviamente, os mais de sessenta monumentos arqueológicos. Encontram-se aqui 24 ecossistemas, desde bosques húmidos montanhosos a picos nevados a mais de 6000 metros acima do nível do mar, num tipo de geografia que permite a existência de habitats ideais para a fauna silvestre, incluindo 75 espécies de mamíferos, 444 de aves, 14 de anfíbios, 24 de répteis e, imagine-se, 377 de borboletas.

O sítio arqueológico de Machu Picchu ou, como lhe costumam chamar, a cidade inca representa uma obra que terá exigido a participação de especialistas em arquitectura, engenharia e astronomia, bem como uma elevada quantidade de mão-de-obra, onde mais de 50% do esforço foi empregue na preparação do terreno e na sua estruturação e drenagem, respondendo então à necessidade do governo inca contar com um centro religioso, político e administrativo num espaço sagrado encarado como a ligação entre os Andes e a Amazónia. Trata-se do mais importante legado que a civilização inca deixou à humanidade, sendo inegável a maestria do conceito e do desempenho arquitectónico e de engenharia que apresenta, em perfeita harmonia com a Natureza.

Um local com cerca de 2500 vistas diárias

Machu Picchu constitui um dos sítios arqueológicos mais importantes da América do Sul e um dos mais visitados em toda a América Latina, sendo agora a entrada limitada a 2500 pessoas por dia, divididas entre os turnos da manhã e da tarde. A contratação de um guia para entrar em Machu Picchu é uma obrigatoriedade da visita. O tempo de permanência no local é limitado, dependendo do tipo de ingresso e, portanto, do conteúdo do passeio. Em função da sua protecção, existe uma série de proibições, como comer, gritar, bater palmas, correr, saltar e que à partida poderão parecer surpreendentes, fazendo todo o sentido se tivermos em conta que ainda no ano passado o Instituto de Pesquisas para a Prevenção de Desastres da Universidade de Kyoto, no Japão, indicou que Machu Picchu estava a ceder cerca de um centímetro por mês devido ao fluxo excessivo de turistas. A verdade é que a montanha se situa numa falha geológica, factor bastante preocupante e que tem captado a atenção do governo peruano e da UNESCO. No passado, a cidadela terá acolhido um máximo de 700 habitantes de um total de 14 a 16 milhões de incas que terão integrado o império. Com uma área urbana e uma zona agrícola, Machu Picchu é também famosa pelo Templo do Sol, uma construção semicircular que envolve uma rocha do mesmo formato previamente existente no solo. O seu relógio solar era responsável para ajudar a controlar a passagem do tempo e os ciclos agrícolas. De referir a importância do estudo astronómico revelado pela civilização em causa, cujos principais deuses eram elementos do universo como o sol, a lua e as estrelas, sendo o imperador inca considerado filho do sol. A montanha de Machu Picchu era, então, um dos mais famosos observatórios astronómicos incas.

Com dois períodos climáticos bem definidos (o chuvoso e o de seca), Machu Picchu assiste entre os meses de Maio e Setembro ao período em que as condições do tempo mais convidam à sua visita, já que nestes não chove e a visibilidade é melhor. O senão desta altura do ano para visitar este magnífico local é corresponder ao período de férias da maioria da população. Em 24 de Junho realiza-se em Cusco (a cerca de 75 quilómetros) a famosa Inti Raymi ou Festa do Sol, celebração religiosa em honra do deus sol e que marca o Solstício de Inverno no Hemisfério Sul e que arrasta até Machu Picchu todos os turistas que em Cusco se aglomeram para assistir aos festejos, pelo que a menos que se pretenda estar presente na mesma, será uma época a evitar para a visita.

Novamente a bordo do encantador Hiram Bingham, a viagem de regresso processa-se num ambiente descontraído, não dispensando no entanto um chá da tarde no luxuoso Hotel Sanctuary Lodge, também da Belmond. Ainda antes de Cusco, o jantar gourmet é servido a bordo do comboio havendo ainda a oportunidade de desfrutar da interpretação musical de canções tradicionais por uma banda que integra os serviços disponibilizados pelo lendário Hiram Bingham.

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