0
Shares
Pinterest Google+

O título da Exposição Mundial de 1873 realizada em Viena viria de modo indiscutível a caracterizar não apenas uma época como todo o futuro da capital austríaca. Ambas as palavras definem este ponto geográfico com enorme exactidão. Viena é, sem dúvida, uma capital de Cultura e Educação

Kultur und Erziehung (Cultura e Educação) foi o tema que, há 150 anos, transformou Viena numa cidade global. Realizava-se, então, a quinta Exposição Mundial, comemorando-se também os 25 anos de reinado do imperador Franz Joseph I, rei da Hungria e governador dos outros estados que integravam na altura o Império Austro-Húngaro.

Entre Maio e Novembro de 1873, o mundo assistiu, maravilhado, a uma mostra que inspirava ao espírito progressista. Para o efeito erguer-se-iam novas infraestruturas que modernizariam Viena, nascia a elegante e moderna avenida de Ringstrasse sobre antigas fortificações entretanto demolidas e o centro enchia-se de grandes cafés, palácios e museus. Lançavam-se as fundações ideais para que mais tarde se desse o despertar cultural que um dia influenciaria o nascimento do movimento de Arte Secessionista na década de 90 do mesmo século.

Um evento que catapultou Viena para uma profunda alteração

Com o império a querer estabelecer-se como nação cosmopolita e forte agente de negócios internacionais, dar-se-ia destaque aos produtos industriais, à maquinaria e às artes.  Situando-se no parque Prater, a principal construção realizada para o efeito, o Palácio Industrial ocuparia uma posição privilegiada exibindo a maior “Rotunda” do Mundo (83 metros de altura e 110 de diâmetro). Uma das inovações da exposição consistiu na “História dos Preços”, uma secção onde se demonstrava o aumento gradual da produtividade e a dependência entre o apetite do público e o desenvolvimento económico. A outra basear-se-ia no facto de ser nesta edição que, pela primeira vez, se realizaria um fórum internacional de cientistas. Apesar dos cataclismos naturais e dos imprevistos que durante a exposição se verificaram (uma cheia do Danúbio, uma epidemia de cólera e o crash da bolsa em Maio), a verdade é que, apostando no estabelecimento de ligações entre as nações industriais, ela representou, sem dúvida, um ponto de referência da Monarquia Dual despoletando a renovação de Viena: o canal do Danúbio e a impressionante reconstrução da zona antiga da cidade (Ring). Este período é ainda considerado como aquele em que terá nascido o turismo como hoje o conhecemos, despoletando-se por isso a construção no sector da hotelaria. O lendário Hotel Imperial abriu as suas portas em 1873, tal como o Palais Hansen, localizado na Ringstrasse.

150 anos mais tarde, a capital austríaca assinala a data com a realização de exposições e de eventos que se estendem já desde o início do ano e que culminarão com a reabertura do Wien Museum em Karlsplatz a 6 de Dezembro após uma renovação e expansão que terão demorado vários anos. Este será um mês em que, sem dúvida, valerá a pena visitar a cidade austríaca.

Os mercados de Natal em Viena

Eleita por mais de uma década como uma das cidades que maior qualidade de vida proporciona aos seus habitantes, Viena transforma-se por completo na quadra natalícia deslumbrando quem a visita com a profusão de iluminações e de mercados de Natal. Ao que se sabe, Viena terá realizado o primeiro de todos sob um outro nome – Mercado de Dezembro – ainda na Idade Média, em 1298, quando os seus habitantes foram autorizados a realizar este tipo de evento durante o Advento, mas sem a presença dos actuais artigos que ali encontramos. À época, as vendas recaiam sobretudo sobre produtos alimentares, como a carne. Actualmente a panóplia será diferente recaindo sobre artigos feitos à mão, brinquedos de madeira, quebra-nozes, ornamentos, roupas tricotadas e, é claro, nunca dispensando os bolos e as bolachas típicas da quadra acompanhados pelo inegável vinho quente com especiarias…

O Mercado de Rathausplatz, o maior e talvez o mais espectacular de todos, realiza-se junto ao maravilhoso edifício da Câmara Municipal e de um parque onde se poderá patinar no gelo ou participar numa série de actividades como a decoração de bolachas ou a elaboração de velas. Situado à frente do Karlskirche (a mais impressionante igreja barroca de Viena, construída entre 1716 e 1739 em virtude da promessa que Karl VI fez apelando ao final da peste – que sucederia em 1713), o Art Advent reúne peças absolutamente espectaculares e aqui a proveniência de todos os produtos alimentares é orgânica, apresentando inclusivamente um certificado. O mais antigo mercado da cidade será o Antigo Mercado Vienense, localizado mesmo ao lado do Mercado do Advento, ambos menos turísticos e mais tranquilos. Nas imediações do Palácio de Belvedere, a Aldeia de Natal apresentará sobretudo presentes baseados em obras de arte e em Spittelberg a oferta será já mais diversa, com antiguidades, cerâmicas e joalharia. Entre o Museu de História Natural e o Museu de Arte, a Aldeia de Natal na Maria-Theresien Platz também merece visita, sobretudo pelos famosos donuts que ali podemos saborear. Absolutamente marcante, a experiência de visitar o Mercado de Natal junto ao Palácio de Schönbrunn é absolutamente inesquecível dada a beleza de todo o enquadramento deste imponente palácio de Verão dos Habsburgo que a UNESCO classificou como Património Mundial. Num ambiente em que o frio se faz sentir e, se tivermos sorte, também a magia da neve, desfrutar de um ponche ou de um copo de vinho quente, de um chá e uns biscoitos ou de umas maravilhosas amêndoas torradas será em Viena uma experiência sempre irresistível e absolutamente inesquecível, tal como uma visita à loja/museu de globos de neve, na Shumanngasse, 87. É aqui que se celebra a proeza de Erwin Perzy, o autor do primeiro exemplar que acidentalmente com apenas 24 anos concebeu o primeiro globo quando tentava aperfeiçoar um sistema de iluminação para salas de cirurgia médica. Cinco anos mais tarde ele e o irmão começariam a comercializar o novo objecto decorativo que viria a valer-lhes uma distinção atribuída pelo kaiser Josef I. O negócio não mais saiu das mãos da família, estando agora já na terceira e quarta geração, e ainda hoje podemos visitar não só a loja como o museu e sonhar com o imaginário nevado que estes pequenos universos guardam.

Para nesta quadra encerrarmos um dia passado em Viena, nada melhor do que arriscarmos um dos pratos típicos da quadra muito apreciado na capital austríaca – o ganso de Natal servido com couve roxa e dumplings de batata. A experiência gastronómica é absolutamente fabulosa e constitui, sem dúvida, um dos pontos altos da cultura vienense.

Um autêntico banho cultural

Representando um dos maiores centros culturais da Europa, Viena não só preserva as suas tradições como alimenta novos talentos e tendências, sendo inúmeros os tesouros provenientes de todas as variantes artísticas, do artesanato e da história tecendo, juntos, a memória da capital austríaca. São mais de cem os museus ali existentes, pelo que se justificará um regresso a esta maravilhosa cidade. Numa primeira visita sugerimos o Kunsthistorisches Museum, onde encontramos os grandes mestres da pintura e dos quais são exemplo Ticiano, Tintoretto, Rubens, van Eyck, Rembrandt, Raffaello, Caravaggio, Velázquez e Pieter Bruegel. O edifício neoclássico que guarda o legado da poderosa monarquia de Habsburgo encerra também antiguidades gregas e romanas e colecções egípcias e do Próximo Oriente com mais de 3500 anos de história. Para melhor abarcar informação sobre a história natural, nada melhor do que o Naturhistorisches Museum Wien, encomendado pelo Imperador Franz Joseph I, que se situa mesmo em frente ao Kunsthistorisches Museum, servindo-lhe de imagem-espelho e portanto proporcionando um enquadramento arquitectónico absolutamente espantoso. A maior concentração de manifestações artísticas residirá obviamente no Museums Quartier Wien, onde num espaço de 90 mil metros quadrados encontramos cerca de 60 instituições culturais, representando assim não apenas uma das maiores áreas artísticas e culturais do mundo, como um espaço de reunião entre as artes plásticas, a aquitectura, a música, o teatro, a moda, a dança a literatura, a fotografia, a cultura de jogo e a arte da rua e que aqui se relacionam com a arquitectura histórica, o design actual e a alta costura num ambiente pleno de pátios, cafés e lojas, um verdadeiro oásis de tranquilidade em pleno centro da cidade. É aqui que encontramos o melhor do expressionismo e da arte contemporânea, com exemplos como o Leoppold Museum, onde se inclui a maior colecção de peças da autoria de Egon Schiele, o MUMOK, onde encontramos manifestações dos movimentos próprios dos séculos XX e XXI como a Arte Nova, a Pop Arte e o Accionismo Vienense. No Palácio Belvedere podemos visitar o melhor da arte austríaca. O Oberes Belvedere (Belvedere Superior) inclui a exposição permanente, impressionando logo à partida com as suas salas de mármore, com os frescos e os rebocos, e que comunica com o Unteres Belvedere (Belvedere Inferior) através de um jardim repleto de estátuas e fontes. Já o Belvedere 21, um pavilhão em ferro e vidro, exibe exposições de artistas austríacos dos séculos XX e XXI.

O edifício da Secessão vale inquestionavelmente uma visita, representando uma associação de artistas visuais que se dedica expressamente à arte contemporânea e cujo centro independente de exposições é o mais antigo do mundo. Aqui o destaque irá naturalmente para Klimt e o seu Friso de Beethoven (34 metros de comprimento), nunca esquecendo a arquitectura do próprio edifício, da responsabilidade de Joseph Olbrich. Centrado nesta disciplina artística e também na arte moderna, o MAK (Museu de Artes Aplicadas) é também um interessante ponto de visita, sendo incontornável o Museu Albertina, ideal para ao amantes da arte modernista. Num palacete que já alojou os convidados da família de Habsburgo podemos agora apreciar a excepcional colecção Batliner que inclui obras de artistas como Monet, Degas, Cézanne, Chagall e Picasso. A uns meros dez minutos a pé, o Albertina Modern concentra obras de arte nacionais concebidas desde o pós-guerra até hoje. No Palácio Imperial de Hofburg, onde por exemplo nasceu Maria Antonieta em 1755, estão actualmente instalados a Escola Espanhola de Equitação, o gabinete do presidente e os museus Schatzkammer (Câmara do Tesouro), que acolhe tesouros de arte sacra e profana, o Hofsilber e o Tafelkammer, onde se encontram serviços de porcelana, de vidro e de prata pertencentes aos Habsburgo e ainda os Kaiserappartements (Apartamentos Imperiais), a Silberkammer (Câmara de Prata) e o Museu Sissi. O Jüdisches Museum, a Haus der Musik, o Third Man Museum (cinema), o Literaturmuseum, o KunstHausWien e, obviamente, o Schloss Schönbrunn (ou Palácio de Versailles de Viena), património mundial da UNESCO, integram o conjunto dos museus cuja visita será mesmo obrigatória, cumprindo-se assim o mínimo aceitável no que respeita à entrega de tempo ao aspecto cultural da herança austríaca.

Da Ringstrasse a Neubau, no 7º distrito, e à cultura dos Kaffeehaus

A visita à capital do império austro-húngaro não estará completa sem fazermos o tour do Ringstrasse, que foi construído com o intuito de ligar os subúrbios ao centro imperial. Decretado o início da sua obra em 1857 pelo imperador Franz Joseph I, ainda hoje representa o principal ponto de referência para quem visita a cidade, obtendo-se dali o melhor do império de então e permanecendo ainda, sem dúvida, o melhor modo de apreciar os maiores edifícios de Viena. No sétimo distrito, Neubau tem vido a assumir-se como um lugar alternativo, jovem, criativo e irreverente, acolhendo o bairro de Spittelberg, onde encontramos galerias de arte, cafés artesanais, designers independentes, restaurantes internacionais e muita animação. A cidade é, aliás, famosa por contar com os melhores cafés da Europa, e um dos melhores modos de o comprovarmos consistirá na prova da sachertorte, o bolo típico da cidade, que combina uma densa massa de chocolate com ganache de chocolate negro e geleia de damasco, servido com chantilly. A sachertorte representa mais do que uma tradição, constituindo a sua receita um segredo muitíssimo bem guardado e do qual encontramos diversas versões na maioria dos cafés de Viena, mas para saborearmos the real thing, nada melhor do que darmos um salto ao Hotel Sacher ou à Confeitaria Demel e aproveitarmos para desfrutar de uma das melhores tradições vienenses. Não é por acaso que ao longo de um considerável número de anos, Viena tenha vindo sempre a ser eleita não apenas como um dos melhores destinos de viagens, mas também como uma das capitais que melhor qualidade de vida oferece aos seus habitantes.

Previous post

Etiópia: Terra Ancestral

Next post

Chacaltaya, Bolívia - Era uma vez um glaciar