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Santuário natural que guarda um sem-número de espécies animais, o Pantanal representa a maior extensão de área húmida do planeta, seduzindo profundamente quem o visita. Já inspirou novelas brasileiras que o tornaram célebre e no entanto continua ameaçado pelo Homem

Foto: Alexis Prappas

Bioma com 250 mil quilómetros quadrados, o Pantanal situa-se na região sul do estado de Mato Grosso, no Brasil, estendendo-se em dimensões menores ao norte do Paraguai e ao leste da Bolívia. Constituindo uma das maiores planícies alagadas do mundo, integra no Brasil o Parque Nacional do Pantanal, classificado pela UNESCO Património Mundial da Humanidade dada a abundância e diversidade da vegetação e fauna que apresenta.

Mar de Xaraés

Ficou inicialmente conhecido como Mar de Xaraés. Na altura acreditava-se que aquela região tinha no passado constituído um oceano ou um mar dada a quantidade de água ali presente. Xaraés era o nome do povo indígena que ali habitava. O tempo viria a provar que jamais ali se encontrara qualquer mar ou oceano e que a ideia de que o Mato Grosso em tempos remotos havia sido um fundo do Mar de Xaraés estava longe de corresponder à realidade. Na verdade aquela região resulta de inundações por parte de vários rios, como o Paraguai, que leva cerca de quatro meses ou mais a atravessar toda a região. Aqui, o clima – tropical – divide-se em duas estações, a do Verão, que é chuvosa, e a do Inverno, que é seca fazendo-se sentir com maior intensidade entre Abril e Setembro, e ao longo do qual as noites são frias. Porque os solos são arenosos, as pastagens introduzidas pelo Homem são bem suportadas, mas a vegetação que predomina é a de matas, cerros e savanas dada a influência dos biomas da Amazónia, do Cerrado e da Mata Atlântica.

Os primeiros colonos

Na origem da presença europeia neste território está, como em tantos outros episódios da história, um homem de origem portuguesa –  Aleixo Garcia –, que motivado pela busca de ouro e de pedras preciosas terá sido o primeiro a visitar o Pantanal, por volta de 1524. Os colonos chegariam bastante mais tarde, já no século XIX, tornando-se a cidade de Corumbá a principal via comercial e fluvial do Mato Grosso, perdendo depois a sua influência para Cuiabá e Campo Grande. Seria a era das fazendas, com a pecuária como principal actividade que viria a trazer grandes desenvolvimentos aquando de ambas as guerras mundiais através da indústria de carne enlatada. A biodiversidade viria, eventualmente, a ser ameaçada dada a presença da actividade agropecuária. As alterações climáticas são, contudo, a maior ameaça aos ecossistemas que ali encontramos e se pensarmos que tanto o aquecimento global como os incêndios florestais derivam da acção humana, rapidamente será fácil concluir que, uma vez mais, o grande agente de agressão é o Homem.

Um santuário que urge preservar

Em Agosto passado, o jornal Expresso citava o levantamento realizado pela organização não-governamental MapBiomas que refere que entre 1985 e 2021 o Brasil terá perdido 13,1% da sua vegetação nativa, entre florestas, savanas e outras formações não florestais e que esta área terá sido destinada à agropecuária, que actualmente já ocupa 31% do território nacional. A mudança da utilização da terra desencadearia uma óbvia redução da superfície de água que, entre 1991 e 2021, se traduziu em 17,1%, tendo sido precisamente o Pantanal a região onde este fenómeno mais se verificou em virtude da alteração dos níveis de humidade gerada pela evapotranspiração das árvores da Amazónia. Por outro lado, e como citava o jornal Público em Dezembro de 2021, um conjunto de cientistas brasileiros estima (estudo publicado na revista Scientific Reports) que os incêndios ali verificados em 2020 e que consumiram 39 mil quilómetros quadrados terão causado a morte de cerca de 17 milhões de animais. Naquele ano, os incêndios que estiveram na origem das chocantes imagens de jaguares a vaguear pela terra negra absolutamente famintos ou com sede e as patas queimadas até aos ossos assumiram o quádruplo do tamanho do maior incêndio na Amazónia, como atestaram os satélites da NASA.

Refúgio de vida selvagem

As áreas inundadas do Pantanal servem de abrigo a uma extensa e impressionante vida marinha e da qual são exemplos o peixe pintado, o dourado, o pacu, e outros animais como os jacarés, as capivaras e as lontras gigantes, entre outros. Uma das razões porque é tão importante preservar as condições deste território é o facto que aqui ainda encontrarmos populações de cervos do pantanal, capivaras e tuiuiús (símbolo do Pantanal) e que noutros territórios se tornaram cada vez mais escassas. Num ecossistema que acolhe cerca de 656 espécies de aves e entre as quais se destacam a arara azul grande, actualmente ameaçada de extinção, os tucanos, o beija-flor, as emas, os carcarás e as curicacas, foram já catalogadas mais de mil espécies de borboletas e cerca de 124 de mamíferos, entre eles a onça pintada, o lobo guará, o quati, o tatu, o tamanduá, e ainda uma verdadeira miríade de répteis como a sucuri, a jararaca, as iguanas e os cágados.

As principais actividades ali proporcionadas, além de uma estada em perfeita harmonia e proximidade com a Natureza, são geralmente oferecidas pelas pousadas onde se fica instalado. As caminhadas realizam-se nas suas imediações percorrendo-se os trilhos na companhia de guias locais e observando-se as diversas espécies vegetais e animais, bem como todo o ecossistema. A cavalo será, no entanto, uma das melhores formas de conhecer a região, já que os acessos nem sempre são fáceis. Aquando das cheias proporcionadas pelas chuvas intensas próprias do Verão, realizam-se passeios nos cursos dos rios e entre a vegetação sendo possível observar uma grande quantidade de aves aquáticas e ainda mamíferos como as capivaras e as lontras. Quando as águas baixam é a vez de facilmente se detectarem os répteis e uma grande quantidade de aves e de mamíferos. Actividade muito praticada no Pantanal, os safaris fotográficos realizam-se tanto de dia como de noite, representando experiências absolutamente diferentes uma da outra, sendo a primeira opção a ideal para os amantes de fotografia e a segunda proporcionando momentos de verdadeira emoção como os que resultam da observação dos jacarés, que parecem surgir do nada impressionando de modo marcante devido aos seus olhos que adquirem uma intensa tonalidade vermelha.

Tão vasto que os primeiros colonos acreditaram tratar-se de um mar, o Pantanal representa a região húmida mais extensa do planeta. Morada de centenas de espécies animais, exibe orgulhoso exemplares de porte impressionante quando comparados com a generalidade, escondendo-se aqui o maior roedor do mundo, a capivara, tamanduás com dois metros de comprimento e lontras gigantes. Trata-se ainda do território que maior densidade de jaguares apresenta em todo o mundo. Proteger este ecossistema já por si reconhecido como Património da Humanidade é de indiscutível importância e urgência se, de facto, queremos guardar para as gerações futuras este raro paraíso terrestre ainda existente.

www.visitms.com.br

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