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Nasceu nos Andes, numa montanha alta de mais de cinco mil metros, nos arredores de La Paz, a capital da Bolívia. Teve uma longa vida, dezoito milhões de anos, dizem os inquisidores dos mistérios da vida na Terra…

Texto e fotos Humberto Lopes

Desde há décadas que os dedos de uma mão contam, o fenómeno do aquecimento global do planeta começou a pairar como uma ameaça para a continuidade do Chacaltaya. A esperança de vida ditava-lhe a sobrevivência até 2015, dando como segura a previsão de um modesto aumento de 0,2 graus de temperatura, numa altura em que espectro das alterações climáticas parecia ainda coisa de um futuro longínquo. Já não é. O aumento foi maior: 0,5 entre 1976 e 2006. E o glaciar não durou aquele tanto: seis anos antes, em 2009, desapareceu, o mesmo risco que correm outros glaciares tropicais dos Andes, com consequências porventura irreversíveis para os ecossistemas, os recursos aquíferos, a economia e a identidade dos povos andinos. Ficou lá em cima, na base do pico homónimo, uma estância de esqui tão fantasma quanto romântica, uma espécie de local de peregrinação nostálgica de aventureiros inconformados. As agências de turismo de La Paz levam-nos em visitas de algumas horas até ao topo.

Será esta mais uma forma de dark tourism, como as excursões a Chernobyl ou a outros lugares que foram testemunha de desastres ambientais? O músico e poeta uruguayo Jorge Dexter propõe no poema / canção Despedir a los Glaciares uma visão contrária, mais positiva e actuante no que concerne à consciência sobre as mudanças climáticas. E, ao mesmo tempo, uma celebração, ainda que com a tristeza do luto, da beleza afinal tão frágil dos glaciares: Y cuando el momento llegue, honremos nuestras heridas / Celebremos la belleza que se aleja hacia otras vidas / Y aunque la pena nos hiera, que no nos desampare / Y que encontremos la manera de despedir a los glaciares.

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